quarta-feira, 29 de abril de 2020


Xyko

No ponto de ônibus, pista lateral da Avenida Brasil, eu via com uma pontinha de tristeza a chegada do ônibus da COESA direto para São Gonçalo. Talvez, percebendo minha decepção Chicão falava: “Deixa este passar, depois eu pego outro”.
Esta cena já era tão comum, que nem sequer causava o espanto esperado. O professor trabalhava em Guadalupe, anos luz distante sua casa. Mesmo assim ainda havia um conto, uma piada, um ensinamento ou apenas um abraço.
Não posso definir isto como dedicação, o que lembro hoje é uma história de amor da forma mais pura. O docente às vezes parecia um guru, como se cada uma de suas sílabas também fosse sussurrado algo como pax et bene.
Vários pares de olhos estavam profundamente fixados nele. Nessas caminhadas para a condução era comum ter a companhia do Carlos Alberto, Carlos Augusto, da Ceara ou quem mais quisesse aprender muito mais que geografia.
As aulas já seriam o suficiente para amar aquele careca grandalhão. Perdemos as contas das vezes nas quais havia tanto humor que o assunto parecia ser secundário. Mesmo assim, aprendemos muito. O cuidado era facilmente observado enquanto víamos mapas (per)feitos a mão. O seu olhar sempre estava atento a turma, pronto para ajudar a qualquer um que precisasse. As avaliações gentis sempre vinham acompanhadas de um elogio ou incentivo.
Um dia, por um motivo qualquer, só eu o levei para o ponto de ônibus, quando vi a placa com o nome da cidade decidi me despedir para não atrapalhar muito. Então ele me convidou para entrar no coletivo e ir conhecer a família dele.
Quando cheguei estendi a mão para a Glória e me apresentei.De um jeito que só ela tem me disse: “então você é que é o famoso Remo? Sabia que já te xinguei muito? Vem comigo para a cozinha e ajuda a descascar a cenoura”. Logo conheci Fernanda, André e Tatiana. Em segundos me transformei no irmão mais velho. Fui tão bem recebido, que senti pena de ir embora.
Dizem que o marido cuida do patrimônio e a esposa cuida do matrimônio, mas quando vi a dinâmica daquele casal incrível passei a entender que para um casamento ser bem sucedido um deve cuidar do outro.
Desde então se passaram quarenta anos. E só posso agradecer a Deus por ter tido alguém que apontou caminhos em momento tão crítico. Bons professores são importantes para a formação dos adolescentes. Grandes mestres são bússolas.
Sou um cara de sorte, fui adotado pelo maior professor que já tive. Um monstro sagrado. Um ícone. Meu querido. Meu velho. Meu amigo.

domingo, 26 de abril de 2020

GAIA



Recentemente me fizeram duas perguntas desconcertantes: se eu sonhava em ser bombeiro e o motivo de gostar tanto de física.
Tudo isto me remete a um dia quando eu tinha em torno de 12 anos e o Mano me chamou para ver um episódio de Star Trek. Space the final frontier, these are... Amor à primeira vista. Naquele dia eu soube queria ser Oficial da Frota Estelar.
Meus amigos queriam ser ricos, jogadores de futebol, famosos, cantores de pagode, namorar todo mundo. Já eu... treinava para fazer o sinal de prosperidade Vulcano com as duas mãos.
Algo me dizia que não teríamos dobra espacial a tempo de eu me alistar na Frota. Mesmo assim, o que custava fazer minha parte? Então, qual deveria a ser minha carreira? A lógica me indicava o curso de Física. A consequência disto foi a primeira leitura de um livro de matemática, sem ninguém para me orientar, durante as férias entre o sexto e o sétimo ano.
Óbvio que no começo foi difícil e cada página deveria ser lida pelo menos umas quatro vezes. Depois a substituição dos números por letras passou a ter sentido, então ficou fácil. Durante o todo o ano seguinte mal a professora acabava de escrever uma matéria no quadro eu já sabia onde ela queria chegar. Foi assim que comecei a construir a injusta fama de aprender sem ter que estudar.
Naquele mesmo ano meu pai passou uma temporada no Rio. Ele era uma versão moderna do Dr. Jekill e Mr. Hyde, um dia bebia até cair, no outro lia um jornal da capo ao fim. Em sua versão médico, me ensinava um bocado sobre ciências humanas. Assim ele também me incentivou a ler de tudo um pouco. Ele adorava ler sobre política nacional e internacional, chegando a me dizer que daria 5 anos de sua vida para ver Jimmy Carter presidente.
O tempo passou e eu estava fazendo o primeiro semestre na UFF, já estava conformado a viajar somente no espaço da minha mente. O ato de me preparar para lecionar física como meio de vida já se desenhava como uma grande paixão, justo quando chega a notícia: “O velho tomou uns tragos para comemorar sua passagem no vestibular e partiu”. Maldito Senhor Presidente dos Estados Unidos, eu odeio este gringo! Não me importa se ele representa uma mensagem de paz...
Forçado a desistir do curso, eu tinha que buscar uma alternativa que me sustentasse em pouco tempo.
Então saiba que não fui bombeiro por vocação, mas por necessidade. Mesmo assim foram trinta anos maravilhosos. E vamos combinar que era um passo muito mais realista embarcar em um Auto Busca e Salvamento do que esperar ser tele transportado para Enterprise.
Hoje leciono para vários rapazes e moças que querem ser cadetes. Em meu íntimo sei que que eles devem ter seus sonhos e lhes digo que o meu se realizou. Apesar de todos os percalços tive uma trajetória pela qual posso me orgulhar.
Sigo minha vida mantendo os ideais de igualdade entre as espécies, busca pela verdade e indo onde nenhum homem jamais esteve. Navego em uma nave que já deu 55 voltas em torno de uma estrela de quinta grandeza, enquanto estou embarcado. Tudo isto perfaz aproximadamente 55x2x3,14x8 minutos luz. Uma distância significativa, apesar de minúscula em se tratando de viagens interestelares. A nave que pilotamos tem recursos finitos e temos que aprender a lidar melhor com ela se quisermos, como espécie, embarcar em outra a tempo.
Seja como for tudo que posso dizer para os demais tripulantes é live long and prosper.

quinta-feira, 23 de abril de 2020


621

Estamos entrando de cabeça na crise do corona, então que não tem faltado é tempo. A cada dia me ocupo preparando e publicando aulas. Mesmo assim sobra, Chronos deve estar farto e já devorou tudo o que podia. Então sobra para lembrar de estórias. As conto para minha gata ela duvida. Acha que tudo vem da minha imaginação.
Aqui vai mais uma. Esta é tão improvável que hoje ela vai querer me internar. A sorte é que particularmente nesta há testemunhas.
O ano foi prolongado entre 85 e 86, tudo faz parte de um amalgama. Não fosse a Copa do México (outra coisa que faria este biênio se transformar em tri, junto com 70) eu iria pensar que o calendário teria sido esticado. O preparatório não havia terminado para nós, a adaptação no calor de fevereiro fazia ferver nossas botinhas nas manhãs de Jurujuba.
Aprendemos a responder com nossos nomes de guerra cada vez que o instrutor gritava os números entre 601 e 620. Éramos finalmente cadetes, havia ali o resultado de uma peneira que começara com 3300 e tantos candidatos, mas a turma não estava completa.
Todos nós temos histórias improváveis, muitos quebraram círculos nefastos de pobreza estudando que nem loucos. Depois tivemos que provar sermos saudáveis, nadar, subir em cordas, não desmaiar sob o sol escaldante, pular muros e carregar uns aos outros sobre os ombros a correr.
Enquanto isto o desespero batia fundo em um cara que não estava com a gente (ainda), uns poucos graus de miopia o separavam do sonho de ser bombeiro. O custo de uma cirurgia chegava perto da renda de toda sua família em um ano de labuta.
“Vamos para a rádio.” “Mãe, não adianta. Ninguém vai querer nos ajudar”. Ele retrucou. “Não desanima. Já fiz promessa para Santa Edivges. Nada é impossível para quem tem fé”. E lá foi ele.
Contrariado. Quase posso ver a sua expressão. Sei exatamente como é a face de meu amigo quando se sente assim e não foram poucas vezes, pois se há algo que pulsa em seu coração além de um sangue rico é o seu senso de justiça. Acredito que assinamos uma espécie de contrato quando chegamos aqui, nele não há nenhuma linha que diga que o mundo é justo, especialmente com os puros de alma.
Ele sabia, que nestas ligações para o rádio, a maioria das pessoas só queriam fazer um pouco de publicidade gratuita para os seus negócios. Tudo era uma farsa. No ônibus entre a rádio e a Clínica lá em Copacabana ele foi enumerando mentalmente todos os motivos que iriam dar para não o atender. “Quem ligou para a rádio não poderia oferecer gratuidade”. “Infelizmente, você não se encaixa no perfil esperado...”  
O que encontrou lá na verdade foi um grupo de médicos generosos, que não cobraram nem pela anestesia.
29 de fevereiro (nem adianta procurar no calendário para saber se 86 foi bissexto, por favor, não me atrapalhe enquanto eu conto) lá estava ele:
- 621
- Wonder!
Que maravilha de pessoa!
Foi exatamente assim que aconteceu.
Não me pergunte como sei onde era a clínica, ou mesmo qual era a fé que levara os personagens nesta procissão interminável.
Foi exatamente assim que aconteceu.
E tenho o dito.
Se você não acredita, posso reafirmar com o que realmente vi. Meu grande amigo cantando nas escadas de um hotel os versos do fantasma da ópera fazendo parar todos que andavam por perto. Uma figura realmente improvável.
Então, se o seu sonho lhe parece algo que só pode acontecer na ficção se espelhe no grande homem no qual eu penso quando falo estas três palavras.
LUTE, PERSEVERE, VENÇA!



quarta-feira, 22 de abril de 2020



Da Capo

Era 1979. Sétima série, estava entediado, queria me livrar logo da tarefa, pedi para um amigo que tinha conseguido agradar a professora com um verso de pé quebrado:
O Rivelino está de bobeira
O Coutinho já disse
Se ele não melhorar
O Zico vai entrar

Isso pensei, basta falar sobre a Copa do Mundo que ela aceita, mas como é mesmo que se faz para caber na música de “parabéns pra você”?
Eu não tinha entendido muito bem como era que se contava as sílabas, mas bastava cantar, se encaixasse na música ela aceitava e eu poderia voltar a ler “Eu robô” do Asimov que estava chegando num ponto eletrizante.
Já sei:
O Brasil em primeiro
O alemão em terceiro
E a Copa do Mundo
Temos em um segundo.

- Deixa de ser ansioso, Remo, você pode fazer algo melhor.
- Mas, professora, encaixa. E o verso dele que é sobre a seleção a senhora aceitou.
- Aceitei sim. Mas você pode fazer melhor.
Uns meses antes eu queimei todas as pontes entre nós. A minha professora de música foi a primeira autoridade com a qual eu “bati de frente”.
Um grande amigo chegou atrasado, abriu a porta delicadamente, olhou para ela, balançou a cabeça e se sentou em sua carteira tentando não fazer barulho. Um camundongo não seria mais cuidadoso. Então, ela deu uma daquelas broncas que parecem durar mais de meia hora, para fazê-lo se sentir como alguém de meia tigela. Lá pelo vigésimo nono minuto me levantei, cerrei os punhos e gritei com ela: NINGUÉM TRATA MEU AMIGO ASSIM! MAL EDUCADA É A SENHORA!
A coordenadora de turno estranhou minha chegada em sua sala. Nunca tinha me indisciplinado antes, mas eu já não conseguia me defender. O projeto de homem que eu era não conseguiu sair daquela sala, ao atravessar o pátio era um rato e ao chegar na sala uma barata que só chorava e tremia.
Tentei voltar ao presente, mas tudo que eu queria era estar em outro lugar.
Um clique na minha cabeça e lá fui com o texto ainda rascunhado.
O Cruzeiro do Sul
Tem um fundo azul
Que me amara num laço
E me põe no espaço.

Sei que já disse isto antes, as melhores tramas ocorrem sob a égide dos piores vilões. Por isso mesmo o que conto jamais seria um texto realmente dramático. A professora era uma mulher que dedicava várias horas-extra não remuneradas para que a escola tivesse um grupo de percussão. Muito longe do Darth Vader ou do Lex Luthor.
Um dia, logo depois de uma apresentação ela se aproximou e perguntou:
- O que você quis dizer com aqueles versos?
Eu docemente respondi:
- Olhe para cima em uma noite estrelada e você mesma vai saber.
Foi o mais próximo que tivemos de verdadeiro pedido de desculpas mútuas.

terça-feira, 21 de abril de 2020


Caminhos
“Um, dois, três, quatro
Ser Bombeiro é um barato
Quatro, três, dois, um
Mas não é pra qualquer um.”

Conheci o Assuero em um curso de aperfeiçoamento para gestores de Defesa Civil. Confesso que no primeiro momento me senti um tanto desconfortável. Não é todo dia que encontro alguém que eu considere mais nerd do que eu mesmo. Passado o espanto, fizemos uma amizade tão instantânea como duradoura.
O cara é o sonho de consumo de muita gente. Quem não gostaria de ser bombeiro, médico ou super inteligente? Bem, este grande amigo traz um pacote com as três condições. Além de uma sabedoria provinda de profunda espiritualidade e a alegria de viver a própria vocação.
Com uma pontinha de inveja digo que boa parte de minha vida não segui exatamente meus sonhos. Chega a ser sacanagem dizer isto, tendo tanta história, tanta estrada e tanto a agradecer.
O lance é que nunca sonhei em seguir minha nobre profissão. É como se eu tivesse sonhado o sonho de outros. Concordo que ser Bombeiro é um barato, como diz a canção que repeti tantas vezes enquanto corria com a tropa. Só que tudo isto me faz lembrar da história do estudante universitário que no dia de sua formatura deu o seu certificado ao pai... e no dia seguinte abandonou tudo para ser caminhoneiro.
Este descompasso ficou claro para mim justamente pela indicação, do próprio Assuero, de um livro que me ensinou o significado de DARMA. Que resumindo pode ser algo como “o trabalho de sua vida”. Quando você faz o que deveria fazer os seus caminhos passam a ter sentido. Ficou muito claro, então, que eu já sabia o queria no mesmo instante que vi o Chicão pegar no giz pela primeira vez. Grandes mestres têm este poder.
Mas não tem revolta não, os caminhos da Corporação me ofereceram diversas fontes de alegria e aprendizado. Foi nas fileiras que aprendi o valor da vida, lá também encontrei amigos fantásticos. Entre eles incluo um grande médico que me ensinou que eu sempre quis ser professor.

quarta-feira, 15 de abril de 2020


Em setembro de 2012 o vira-latas aqui pôde se orgulhar de ser o representante do Rio de Janeiro na convenção sobre Defesa Civil e preparação para grandes eventos na Alemanha. Em mais uma prova do que canso de dizer: o Bombeiro é o Barão da ralé.  
Antes de contar alguns detalhes da viagem, cabe dizer que li uma vez que não importa muito o quanto você se prepara: viagens são grandes niveladoras de conhecimento. Um rolé equivale a pelo menos dez livros, em especial se você também está disposto a ler.
A quantidade de fatos ocorridos devido as diferenças culturais se avolumaram naquela semana de outono bávaro. Vou listar alguns:
- Tomei uma bronca homérica por atravessar a rua totalmente vazia quando o sinal estava vermelho... “Mas não está passando carro nenhum!” Me defendi... “Não importa a lei é a lei.”
-  Tive que me desculpar umas quinhentas vezes com a chefe da delegação alemã, uma senhora uns vinte anos mais velha.  Eu perguntei se poderia lhe adicionar no facebook. “Eu poderia ser sua mãe!”... “Concordo, mas saiba que não quero ser seu namorado, só seu amigo!” retruquei.
Para me defender destes desencontros tenho um macete: cada vez que viajo tento aprender as palavras mágicas locais. O que para nós seria algo como:
1.     Por favor;
2.     Obrigado;
3.     Com licença;
4.     Bom dia;
5.     Desculpe; e
6.     Tem hamburguer?
Mas, justo quando fiz uma palestra diante de umas 400 pessoas fiz uma confusão enorme entre o bom dia e o boa tarde, o que fez toda a plateia rolar de rir. Até que foi legal para quebrar o gelo. Mas só soube a besteira que fiz uns anos depois.
Mas o que realmente me marcou foi conversar com dois engenheiros. Eles queriam saber se nós no Brasil nos interessaríamos em comprar um software de altíssima tecnologia. A ferramenta nos ajudaria escolher as melhores localizações possíveis para quarteis de polícia e do Corpo de Bombeiros.
Ali tive um enorme ataque de bom senso, e menti polidamente... a qual gestor não se interessaria?
Seria difícil explicar que o Brasil não é para amadores.
Bem, meus caros, se eu fosse sincero (Lembram Aurora da Carmem Miranda) eu pouparia um bocado de trabalho àqueles brilhantes técnicos. Seria muito difícil explicar para eles que estes tipos de decisões, aqui no Brasil são feitas por políticos.
E políticos... Bem, me perdoem a tautologia: são políticos.


Guardiões.

Bem sei que debalde, muitas vezes, vigia o sentinela.
Há forças que ultrapassam a vontade humana.
Porém, aqui ficarei mesmo que só por obrigação e honra.
Sempre lembro:
A Guarda aguarda na guarda.
Se a Guarda não aguarda na guarda...
A Guarda aguarda no xadrez.

domingo, 5 de abril de 2020

Toca Music and me na doce voz do Michael Jackson, algo antigo, do tempo em que ele ainda não tinha vergonha de ser negro. Mal termina, logo emenda Thank you for the music do ABBA. Penso: duas músicas gêmeas. Não é só isso. Elas quase são eternas.

Já falei coisa parecida. Não dá para comparar o que resistiu ao tempo (Chronos é devorador) com o que é feito hoje.

Falo simplesmente que há músicas que vêm em pares. Outras são eternas.
Ou seja, não dá para cantar Ronda sem emendar com Sampa.

Não dá para ouvir Antônio Marcos cantando Como vai você? sem que o pensamento não escape para em One day in your life na voz, não menos emocionada, de Johnny Mathis.

Observe bem que não estou falando de plágio, como o sofrido pelo Jorge Ben (sem o jor do numerologista) que foi terrivelmente clonado pelo pop star inglês. O que digo é sobre o fato de que certas coisas são universais. O sentimento é o mesmo! Então, entendo o porquê de o Milton Nascimento ter composto Certas canções logo após ouvir Ebony and ivory.

Talvez, só talvez... Platão esteja certo e deva haver um mundo de cristais. Um lugar onde a Mente crie a realidade. Então, alguém vai lá e consegue descrever a sua viagem de um modo razoavelmente próximo. Afinal, não dá para conceber o mundo antes de certas canções.


Então está dito: The long and widding road já fazia muito carro derrapar antes mesmo do Paul rabiscar os primeiros acordes. She já desfilava sua beleza antes de Charles Aznavour entoar a primeira nota. E As águas de março sussurravam sua fúria cíclica nos ouvidos do Tom ao ver a destruição causada pelo Rio Preto.