domingo, 13 de novembro de 2022

Símbolos

 

Seguimos sem o amor por princípio. Até entendo que ficaria difícil levar a sério essa palavra fora do contexto poético, em cartas para a namorada ou em bons dias fofinhos do zapzap. Entretanto, sua ausência grita em nossos ouvidos. Basta saber um pouquinho de filosofia ou ao menos conhecer o lema positivista completo.

Dá até para imaginar a conversa nas casas de Orleans e Bragança tomadas por Deodoro da Fonseca: “o lema ficou muito longo”, ou “tira o amor”, ou ainda “não vão nos levar a sério”. Resumindo lembra muito aquela anedota que explicaria o porquê de o sete ser cortado. “Moisés anuncia as leis ao povo que acabara de ser liberto da escravidão e ao chegar ao sétimo mandamento explica que não deveriam cobiçar a mulher do próximo e um gaiato lá do fundão grita: corta o sete!”.

O problema é que símbolos explicam muito e influenciam mais ainda, outra anedota, esta provinda dos tempos da guerra fria e consequente corrida espacial é muito didática: “Se os russos chegarem na lua primeiro vão pintar ela toda de vermelho, então os americanos vão aproveitar o pano de fundo e escrever: Coca-Cola”.

Já o alemão construído pelo Partido Social Nacionalista explica exatamente como os símbolos são modificados, roubados e ressignificados. Basta trocar a orientação para dizer adeus ao amor proveniente da cruz gamada, um símbolo hindu milenar que traria boa sorte.

Aqui nos cabe o exercício poético para entender o que seria a tal ausência do amor, me socorro com Vinícius que explica “quem sabe a morte, a angústia de quem vive”, ou do Leoni em “noite e dia se completam no nosso amor e ódio eterno”, ou ainda do Lulu que ama calado como quem ouve uma sinfonia.

Começo com o medo, não como oposto do amor, talvez sua ausência. Basta explicar para quem está confortável o que pode se perder. Continuo com fundamentalismo maniqueísta onde só quem faz parte de sua bolha pode ser reconhecido no espelho tão bem cantado por Caetano em Sampa. Assim se clama pelo extermínio do outro, aquele não somos capazes de enxergar nas mesmas águas onde Narciso se afogou por se apaixonar pela própria imagem.

Sob o mesmo símbolo pode se encontrar o reflexo onde reafirmamos o que jamais seríamos capazes de fazer no deserto onde te encontrei, estranha e só. Lá a Loba do capitólio se resume a uma cadela acorrentada, vivendo o que lhe resta de uma Síndrome de Estocolmo.

Um comentário:

  1. Pensar em um sibolo nos dias de hoje so posso pensar em estrela solitaria, desejando que ela se una a muitas outras como se fosse um grão de areia em uma linda praia.

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