Você tem um bregete que não sai da cabeça nome dele é corpo caloso (ou coisa parecida), não se preocupe faz parte do seu show, isso tem que estar aí mesmo como se fosse uma garotinha, cansada com sua meia três quartos. Sem isso seus dois cérebros (caramba – mal consigo acreditar que certas pessoas tenham um!) não conseguiriam se comunicar.
Sabe aquela metáfora dois lobos que temos dentro da
gente e que escolhemos a qual deles vamos nutrir? Pois é. Se você é capaz de
superar uma insistente formação maniqueísta lhe convido a nutrir os dois.
É justamente isso que tenho feito nos últimos seis
meses. Traduzindo tenho andado grudado em um violão e mesmo sendo um cachorro
velho tenho aprendido um truque ou dois.
Como todo aprendizado este tem me cobrado tempo, disciplina
e longas reflexões.
Logo depois do básico algumas canções abrem seus
braços logo nas primeiras tentativas. Não é delas que quero falar. Meu gosto
por desafios vem me conduzindo por caminhos tortuosos e exigido horas a fio
para conseguir tocar de um modo minimamente passável.
Aqui cabe desviar a rota para outra arte: Amo filmes infantis
de animação. O que dizer, por exemplo, de Toy Story? Resumo em uma palavra:
tempo! Como a técnica de animação usada estava em seus primórdios o time de
produção teve tempo para desenvolver um roteiro brilhante e cheio de detalhes
encantadores. Então quando há uma reprise não me canso de revisitar o cowboy e
o astronauta de mármore, pois sempre há algo novo no velho filme.
Assim vou dedilhando Hallelujah. Lembro ter ouvido
comentários sobre a música antes de aprender a tocá-la de que algumas igrejas
proibiram sua execução para evitar controvérsia semelhante ao Cálice que trazia
em seu bojo o nojo ao cale-se. Confesso que a poesia não se entregou de
imediato ao meu coração e as referências bíblicas pareciam desconexas, só que
depois de meus dedos quase sagrarem comecei a intuir a relação do eu poético com
dúvida e espanto diante do sagrado.
Depois veio Depois que no contexto vivido ganhou outra
dimensão ao perceber que despedidas ocorrem em diversas relações humanas. De
fato, a Marisa Monte já havia me convidado a um lugar em que há pão em todas as
mesas e o sonho nutre o mundo real. Ainda bem que nesse país agora apareceu você.
Voltando ao cinema não há como esquecer a perda
trágica do autor de La bamba, no mesmo instante em que minha mão direita
aprende uma canção ligeira na qual cada acorde tem uma batida diferente.
Sinatra me mostra o seu caminho por onde passa uma
garota que o deixa desnorteado com seu andar ondulatório. O que poderia ser uma
mera expressão de um machismo tóxico se transforma em uma coisa mais linda, só
que antes ele tem que saber qual é o Tom.
Toquinho traz um colorido de tamanha beleza que nem
percebemos que a conclusão de sua aquarela é seu próprio e inevitável fim
diante de um menino que chega em um muro. Paula canta sobre uma relação abusiva
que a primeira vista parece ser uma história de amor. Hebert Viana expurga suas
dores de olhos fechados e mesmo assim encontra uma lanterna. Djavan reconhece
os sinais de Almir Sater que vem devagarinho de chalana saboreando massas e
maças. Roberto fala que as cartas para seu querido velho não adiantam mais,
alerta sobre os espinhos nos caracóis dos cabelos do Caetano sem saber como expressar
seu grande amor.
Assim vou caminhando e cantando nas favelas e no senado
na esperança de lhe encontrar em Irajá ou Gaporé. Quem sabe se um dia eu
aprenda as estradas do sol e possa encontrar o pombo que sonha pelos espaços abertos,
livre de seus dolorosos anéis de metal. Finalmente poderei dizer ao menino que
viu seus pais se separando que ele não deve carregar o mundo nos ombros e que a
reposta é muitas vezes simplesmente: deixa estar.
É provável que seus dois lobos já tenham se perdido
nesta cacofonia. Os meus encontraram um instrumento para que eu também possa assim
o ser nas mãos de Deus. Então que nessa quadra da história tão lobotomizada que
eu traga união onde reina a discórdia.
Muito bom, ALOF BM 601 Remo ! Show de ⚽!
ResponderExcluirTexto longo cheio de sinais, tem q ser lido umas 3 vezes, mas de primeira, ja gostei.
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