Procurei a etimologia da palavra “análogo” e esperava uma dessas histórias deliciosas nas quais a origem da palavra remete a interpretações complexas e edificantes, me frustro ao saber que vem do latim com a simples explicação de “semelhante a”.
Faz parte. É uma palavra chata mesmo que nos leva a duas expressões sobre as quais tenho refletido muito, que são: “análogo a escravidão” e “análogo ao terrorismo”. E de onde vêm esses dois monstros? E por que não dizemos as palavras assim cruas sem sua companhia chatíssima?
Simplesmente o fato de que escravidão e terrorismo não encontram respaldo legal para explicar algumas coisas que têm acontecido por aí. E acusar terroristas e escravocratas sem dizer que essas pessoas são análogas a escroques pode trazer sérios problemas legais.
Tomemos por exemplo a palavra sequestrar para uma compreensão ágil do que estou dizendo. Recentemente o Maninho me perguntou quanto tempo fica preso alguém que sequestra. Respondi: “umas duas encarnações”, o que não poderia ser menos exato.
Quem sequestra por um dia fica preso por trinta anos, mas quem sequestra por trinta anos não fica preso nenhum dia, pois isso é apenas algo análogo a escravidão.
Filosofar ao invés de fazer direito ou jornalismo nos dá a chance de ir seguindo sem nos preocupar ao dar nomes corretos as coisas que são, do mesmo jeito que nos ensinou Harry Potter. Se tem focinho de porco, pé de porco, rabo de porco, joelho de porco e não é feijoada... só pode ser porco.