Dizem por ai que mitômano tem por origem a palavra mito, não sei se concordo, mesmo que a tal da etimologia diga isso, afinal antenas podem ser parabólicas e captar verdades universais perdidas nas ondas de rádio.
Então me permitam contar: era uma vez uma bailarina...
Ainda pequenina ela aprendeu a andar, pois no colo iria sempre sua irmã ainda menor, assim foi aprendendo a se equilibrar até em fios de cabelos. Talvez seja por isso que até hoje ela ensine a outras meninas e outras bailarinas a compreenderem que não é só Sansão que deve se orgulhar de suas madeixas.
Bailarinas e motoqueiros têm algo em comum, simplesmente caem (ou mentem sobre o assunto), porém a queda diz muito pouco sobre esses seres alados, e sim o modo que sacodem a poeira e dão a volta por cima.
O caminho para a casa da vó não tinha florestas nem lobos (isso não inclui aqueles que vestem peles de cordeiro), nem mesmo a pedra do caminho de Drummond, mas havia uma escada. Não uma escada qualquer: a escada. Diz a lenda que o pedreiro tinha misturado chiclete com banana quando a fez.
Corajosa ela corre na frente para ter mais tempo de ouvir as estórias de quando sua vó fugiu para o circo. É claro que tropeça, e o conto viraria uma tragédia se seu pai também não fosse um misto de acrobata com equilibrista. Bolsa na mão esquerda, caçula na outra mão esquerda, só lhe restando o pé não menos esquerdo a apoiar o primeiro salto mortal da filha, que gira no ar e crava os pés em terreno seguro. Quase pude ver os jurados levantando uníssonos as placas carregadas de notas 10.
E é disso que são feitas as bailarinas que bailam, que ensinam e que cuidam de suas pupilas sempre as lembrando que elas têm suas próprias ficções.
Assim termino com hipérbole a parábola que tenho na memória, ou seja um mito, uma profunda verdade.
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