Passei boa parte de minha adolescência, talvez toda, assim meio sem saber qual era meu lugar no mundo. Então se digo que sei como certas palavras se sentem desajeitadas o digo com propriedade. Poderia até tomar como exemplo a palavra alfarrábio, mas não... Quem tem um nome tão estranho deve saber exatamente o que quer dizer. Outro assunto no qual também me qualifico como um expert, formado na faculdade da vida, baseado em dados que você não quer saber de onde tirei.
Poderia até ter medo de parecer óbvio e correr o risco de perder meu poder auto investido de me apresentar como poeta. Coisa que muitos fazem por aí sem nenhuma responsabilidade com os vernáculos, concordância, métrica ou até mesmo sentido. Mesmo assim não vou escrever que flores de plástico não morrem ou ainda que o amor é o calor que aquece a alma.
Depois das devidas desculpas peço a atenção para que você me diga se também não acha que o sentido das palavras fornecer, fornicar e futricar não lhe parecem trocados. O digo sem medo de plagiar Luis Fernando Veríssimo ao se referir a defenestrar em um texto delicioso com o mesmíssimo tema que abordo agora.
Do mesmo modo toda vez que falam em palavrão eu penso em embargos infringentes, uma tremenda sacanagem que determina que não somos, definitivamente, iguais perante a lei. E tudo depende do quanto você está disposto a pagar para que alguém lhe defenda além dos parâmetros do trânsito e julgado (peraí que fui lavar a boca com sabão).
Tudo isso me ocorre com o simples pensamento de que inhame e queijo tiveram seus nomes trocados na maternidade. Não é possível que algo tão gostoso tenha um nome tão insosso e vice-versa. Vai dizer que quando você acerta na medida da tapioca com café e ainda põe algo derretendo em cima, antes de salivar, não pensa: nhame, nhame.
Pois é.
É exatamente assim que me sinto, em especial em algum dia que estou pronto para me envenenar na padaria da esquina e peço para encher meu pão de sal com mortandela (e antes que você queira me corrigir, seja pela ortografia ou pelo hábito alimentar, saiba que é exatamente o que minha memória afetiva pediu naquela tarde). C não quer não? Mesmo oferecendo assim, prefiro dar uma lambida de fio a pavio, vai que C quer mesmo.