quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Ninguém vai chegar com tudo o que tem

 Se eu soubesse que fazer terapia é tão maneiro teria começado antes, parece um bom filme com histórias que dão pra rir e chorar. Ontem cheguei, finalmente a duas questões que realmente me levaram ao consultório do Dr. Luis.

- O sonho recorrente no qual eu chego só de short no Quartel Central para, ao cruzar o Corpo da Guarda, perceber que todos outros estavam com uniforme de gala; e

- A quase briga que tive com dois caras que insistem em andar com cachorros soltos.

A segunda questão é fácil e até já tinha matado a charada antes mesmo de atravessar o portal. Cheguei ao ponto de não ter que educar mais ninguém. Quem tem filho grande é elefante, quem tem filho com bigode é gato. Já os meus não precisam mais dos conselhos que eu poderia dar, enquanto quem tá andando por ai procurando encrenca pode a encontrar em outros lugares.

Já com a seminudez sonhada entendo que a toca do coelho é mais funda e ele passa por mim correndo com um relógio de ponteiros acelerados. Ao segui-lo o sonho ganha uma nova roupagem, nele estou só com uma sunga preta, justo o menor uniforme que um bombeiro pode usar. Saio aflito de um quarto onde padece meu primeiro comandante, alguém a quem devo nada menos do que a vida de meu filho, aflito em busca de ajuda passo por outros bombeiros e bombeiras que não me reconhecem, para no fim chegar ao auditório A, onde todos outros oficiais estão vestidos de cinza, estrelas, gemadas e espadas. Quase nu sou apenas alguém ridículo, cujos apelos não podem ser ouvidos.

Acordo estranho e só, mas em paz. Na cabeceira um exemplar ilustrado da Odisseia, nele marcado duas passagens. Uma do começo da aventura, para fugir do Ciclope Ulises, o trickister, diz que seu nome é ninguém. Próximo de Ítaca Odisseu, o herói, atravessa o Mediterrâneo a nado, como estava nu, Leocoteia a Deusa da pureza, vem em forma de gaivota tece um pano branco para preservar seu coração exausto.

Sem nada, chega o Ninguém, ao fim de sua jornada.   

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