A história da guerra mais contada começa com uma maçã e termina com um cavalo, essa odisseia começa com um cavalo e termina com um menino.
Entretanto, antes preciso contar uma anedota, essa envolve um cavalo velho e um poço mais ainda. O tal equino cai na estrutura que não funcionava há anos. O dono pensa uma forma básica para se livrar dos dois, então ele manda seus escravos jogarem terra até que ela se encha. Aqui cabe lembrar que não existe essa coisa de senhor de escravos bonzinho. O plot twist (carpado) acontece quando o animal se movimenta em L até conseguir saltar do poço, trazendo um moral da história de nunca desistir.
Deveria ser lindo. Só que não funciona. A lama, na prática torna a flutuabilidade complicada, a despeito do aumento de sua densidade, formando o que chamamos de areia movediça. Portanto, a história do cavalo velho que se supera é uma metáfora e só. É algo como ser atropelado por um trem por ler nas entrelinhas.
Volto ao cavalo. Esse não é de madeira, nem se supera milagrosamente flutuando na lama. O pobrezinho precisaria de uma guarnição de bombeiros para o resgatar. Infelizmente o Aspirante que comandava a guarnição acreditou em um subordinado e decidiu puxar o animal pelo pescoço, pois cavar sob ele e por uma barrigueira ia dar um trabalho insano. No fim o pangaré morre. Sei de tudo isso porque é o erro que vai nortear os outros 29 anos de minha carreira. Mea culpa, mea tão grande culpa.
Revisitei essa cena tantas vezes em minha cabeça que perdi as contas. É como se o Diego Souza tivesse feito o gol no Cássio. Só que isso volta ao terreno mágico. O bom e velho E SE...
Responsabilidade é quando entendemos que não há soluções mágicas. Bem-vindo a vida adulta seu Remo. O que decidi fazer, então, em homenagem aquele cavalo foi exigir o melhor padrão de resposta a cada socorro em que estivesse. A partir de alguns princípios básicos, tais como: na dúvida entre trote e socorro real coloco o bloco na rua. Se não há risco a vida sempre seguir a ação de maior segurança para a guarnição. Se for para pôr o pescoço a prêmio que assim seja, com coragem, mas sem correr risco desnecessário.
Ontem saí da terapia e chorei quando entrei no carro no caminho de casa. A vida sacrificou um nobre animal para que eu me tornasse um bombeiro de verdade. Antes de chegar, todavia, a Aninha me liga e pede para comprar maçãs. Paro no mercado, entro. Contudo, antes de chegar na prateleira um lindo molequinho passa por mim correndo, um verdadeiro raio. Olho para trás para ver se há algum adulto para abraçar ele. Ninguém... só minhas pernas cansadas o poderiam deter antes que chegasse na rua. Pensei rápido e alcancei o pimpolho.
Esse menino pode até sonhar em ter um pônei. Mas foi um pangaré que o salvou.