sábado, 12 de outubro de 2024

O chapeuzinho da vovó

 O livro que mais me ensinou literatura não era didático, pelo menos não na área citada, era um livro sobre psicologia que destrinchava a relação entre a Chapeuzinho e o Lobo. Nele a figura paterna foi seccionada entre o Lobo e o Lenhador.  Eles são os polos opostos de um pai ausente da história e quem sabe da vida da menina que se perde no seu próprio inconsciente.

A partir de então o limiar de uma percepção sutil colidiu à minha frente. Deste modo Wilson e House, da série homônima se revelaram ser diferentes aspectos de um único médico desintegrado entre o conhecimento técnico, a relação com os paci(m)entes e os outros profissionais. Pois se assim não fosse os diálogos seriam internos e incompreensíveis ao público. O que vamos combinar estragaria a dinâmica da série e os conflitos deliciosos. Todavia, essas dimensões ultrapassam de longe o maniqueísmo comum dos contos de fadas após o crivo da Disney.

Outra possibilidade é a transformação de um ser em um objeto, algo como o Cortiço de Aluísio de Azevedo, o telefone no filme Atração fatal ou a bola do náufrago, Tom Hanks. O destaque especial vai para o Hal de 2001. Contudo, o mesmo não pode ser dito do replicante do Blade runner, pois esse era certamente mais humano que as unidades de carbono que o perseguiam.

Há até a possibilidade que esse pequeno texto lhe abra uma porta sem direito a volta, então se perca na Matrix e lembre o que o Neo aprendeu sobre conhecer e atravessar portas.

A cesta de doces vai formar a inteminável aliança entre a vó, que nutriu a mãe e vai ser cuidada pela neta. Se trata de uma trindade humana. Enquanto a figura masculina foi separada entre o bem e o mal, a feminina o foi através do tempo. Assim menina, mulher e velha se espremem na floresta em busca de um caminho de uma paz improvável entre dois lobos famintos.

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