Ando meio cansado de ouvir que a palavra saudade só existe em português. Deixa eu (deixa-me - eu não aguento – pode até ser certo, mas é feio pra cacete!) dizer uma coisinha: NENHUMA PALAVRA SEQUER DE UMA LÍNGUA PODE SER TRADUZIDA TOTALMENTE PARA OUTRA. Imagina, por exemplo, que você nasceu em uma oficina mecânica e todos os seus parentes são mecânicos. Então quando falarem rebimboca da parafuseta vocês vão saber do que se trata, apesar da família de sua namorada em que todos são pescadores não tiverem ideia do que você está falando.
A coisa piora se alguém arrisca a cantada: ‘saudade do que ainda não vivemos”, que poderia até ser fofinho, não fosse dito por um macho tóxico. O tipo de cara capaz de ajudar um amigo (supostamente – olha aí meu jurídico imaginário) estuprador.
Saudade pode ser até única, porém acredito que as palavras têm significados vindo tempos imemoriais, perceba aqui que a origem (em termos de língua e história) fazem com que seja difícil até mesmo encontrar traduções (ou melhor sinônimos) na mesma língua. Saudade não é o mesmo que nostalgia, pois esta tem tudo a ver com dor (olha que a Marisa Monte tem a dela, eu a minha e você a sua), e apesar de saudade doer lá dentro é também fonte de prazer (a cantada já citada que o diga).
Talvez a culpa seja do tal Dom Sebastião. E antes que você me xingue por trazer referências que quase ninguém lembra, trata-se (que vontade de dizer “se trata”!) da história de um príncipe que morreu nas cruzadas. E deixou o povo português chupando dedo com saudades do que nunca viveu. Se ele voltasse e mantivesse os privilégios da corte como todos os outros de antes (e depois) fizeram, ninguém teria saudades. Seria mais uma dor lembrar dele.
Como torço pelo time que tem mais história que presente, observo que o Vasco também sofre desse tal sebastianismo. O problema se agrava com o fato de que nossos reis e príncipes fizeram muito mais que se perder em terras distantes. Foram grandes de fato. Cabe a nós sabermos que hoje usam bengalas ou pelo menos óculos bifocais.
E perdoem a fala etarista, mas deixemos atletismo para atletas e não para jogadores aposentados em atividade. Esse é o mesmo discurso que faço ao dizer que (quase) qualquer um pode ser bombeiro. E estabeleço o seguinte teste: Tenho 113 Kg, se eu me jogar aqui no chão você pode me arrastar por 30m, trajando roupa de aproximação e cilindro? Se a resposta é não sinto muito, fica pra outra encarnação. Há uns 10 anos eu seria capaz disso, hoje não mais. Por isso é que estou na reserva (ou seja, aposentado).
Então não me fale de saudades e de voltas, me fale como preparar quem está por vir, não me diga amanhã você quer sentir saudades como um (bom e) velho samba. Diga que nesse Sanatório Geral vai passar, como neste outro (ainda melhor) samba pra nossas novas gerações.