quarta-feira, 9 de abril de 2025

Olha a bolinha

Tomei um golpe quando tinha 17, eu havia acabado de passar para a UFF e me achava o cara mais esperto do mundo. Tenho até vergonha de contar, mas sabe aquela das três forminhas de empada, uma bolinha, um prestidigitador, um ator fingindo ser o otário, tudo bem arranjado sobre e ao redor de uma folha de jornal? Imagino que você vai dizer que essa é mais velha que andar pra frente. Só que o cara que achava que ia desvendar os mistérios do universo caiu. Desde então me comprometi a ser cético para nunca mais dar mole.

Só que...

1.     Mandei um pix para um homônimo de meu vizinho. Achei o beneficiário no zap e pedi para que devolvesse. A resposta foi que a conta estava negativada e assim que pudesse...

2.     Coloquei o consultório de dentistas em pagamento recorrente, depois de tentar ser atendido algumas vezes em plena pandemia sem sucesso, cancelei o contrato. Mesmo assim continuaram cobrando, só parou quando cancelei cartão de crédito. Depois de quase três anos entraram em contato informando que tenho uma fatura em aberto.

3.     Mês passado cancelei o cartão de novo, mesmo erro. Só que agora foi com a empresa de segurança.

4.     No início do ano passado cismei que ia fazer uma coletânea com meus contos e poesias. Paguei pela publicação e até agora nada.

Poderia aumentar essa lista quase indefinidamente. Meu melhor amigo cansa de dizer que sou uma versão moderna do Batman barrigudo, aquele morcego que perdia um tempo enorme ouvindo as exclamações de seu sidekick. Coisas do tipo: “santos dentes escovados três vezes ao dia!”. Olha que quando eu via essa série, molequinho, já pensava: por que o Coringa não dá um soco de uma vez ao invés de ficar falando? No fim das contas a Batgirl (essa sim eu torcia para aparecer!) chegava para salvar o dia.

Pensando bem parece que vivo levando aqueles golpes típicos de turistas que pensam estar comprando a última lasca da cruz de Cristo. Estou aqui de passagem, e espero que os golpes que tomo ao menos virem boas histórias de viagem. Porém assumo que está perdendo a graça saber que a qualquer momento vou tomar um golpe, seja de um pedinte ou de um Oficial de alta patente. Por isso já mandei substituir meu sentido aranha por um toque de celular que lembre o tempo todo o que está para vir: “olha a bolinha, olha a bolinha, olha a bolinha”.

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