domingo, 13 de abril de 2025

Per capita

Quando saio por aí convidando as pessoas a se inscreverem no canal onde leciono física e matemática é muito comum me dizerem “sou de humanas”, então respondo: “eu também”. Não há nada mais humano que calcular se as provisões vão bastar na estação seguinte, medir o terreno que o vizinho quer tomar ou encontrar padrões.

Sei que tais pessoas não se convencem muito, então resolvi fazer a engenharia reversa para explicar que os textos que você encontra aqui mesmo em meu blog, apesar de parecerem criativos, nada mais são do que a consequência lógica de buscar conexões. Quase a resolução de uma equação.

Basicamente paro para pensar nos temas do dia e suas correlações, por exemplo, vou tentar colocar aqui bem juntinho Vegetti e Carlos Gardel. Porém, isso só vai ter o cheiro de arte se não for óbvio, como o fato de parecerem argentinos, até porque Gardel é francês.

O lance é que estou as voltas com uma nova (para mim) canção chamada por uma cabeça, e ela é difícil pra cacete. Isso me obriga a pensar nela horas a fio. O título me fez desconfiar de alguma relação com as corridas no jóquei, o que se confirmou. A surpresa ocorre quando entendi que a metáfora se estendia a um relacionamento romântico que não foi adiante por pouco ou até pelas sutilezas que fazem o tango uma forma alegre de tornar em dança uma tristeza qualquer.

Apesar de ter dois pés esquerdos e nem tentar me arriscar a dançar, tento juntar minhas mãos, não menos sinistras para reproduzir um tasquinho de tanta beleza. Isso me obriga a ser insistente, então até mesmo vendo o jogo do Vasco continuo teimando em dedilhar as seis cordas. De repente tenho que me conter para não jogar o violão para o alto quando sai o gol de nosso centroavante. E como foi? Lógico que com cada fibra de seu coração, com as pernas, braços, abraços do cabelo ao umbigo, de corpo inteiro, enfim.  Com a alma do menino que torce. Desde a ponta dos pés que insistem e esquecer dos 37 anos até a capital arma do artilheiro. Tudo em uma homenagem ao maior que já passou por aqui, justo na semana de seu aniversário.

Finalmente sei que você pode estar chateado comigo, perdendo tempo com milongas, enquanto a Argentina passa por problemas realmente sérios. Entretanto, ouça bem o que digo: quando perdermos tudo de nossa alma latina e não sobrar nenhum centavo para um aposentado tomar chimarrão em frente a Casa Rosada ainda haverá a arte para dizer quem somos.

Assim quando algum burocrata disser um país está bem devido a renda produzida por pessoa ser o suficiente, não deixe que seu coração de humanas se perder nas contas. E pergunte para quais cabeças vai o capital.

No tango, a cabeça do Gardel está focada na de um nobre cavalo. Hoje a pelota chega na cabeça do Pirata, ontem seria do Dinamite. São essas cabeças que fazem toda a diferença.

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