EM NOME DO PAI
Passei por um outdoor que dizia: “Em nome do Pai do
Filho e do Espírito da Empresa”, sei que em se tratando de publicidade chocar o
consumidor em potencial é uma estratégia para obter a atenção.
Até admito que deve ter dado certo, caso contrário não
estaria escrevendo sobre o assunto. E também entendo que com padrões morais
cada vez mais flexíveis deve ser difícil chocar alguém, seja quem for.
Em favor da liberdade de expressão também pesa o fato
de que as reações às imagens do jornal Dinamarquês foram exageradas, e colocam
os chargistas na cômoda condição de vítimas. Se não fosse suficiente, a óbvia
constatação de que a violência, além de abominável, é o argumento de quem não
sabe argumentar.
O que me incomoda, no entanto, é que temos um arsenal
de argumentos bem medidos, a velocidade da produção e a voracidade do mercado quando se trata de atacar qualquer
coisa que possa ser considerada sagrada.
Esta liberdade ilimitada, no final das contas, corrói,
a si própria uma vez que o extremo de um fato pressupõe o seu oposto.
Quero, no entanto, dar um testemunho verídico e
pessoal sobre o assunto: Lembro claramente do dia em que desprezei com uma
frieza calculada um trocador que insistia que eu havia lhe passado uma nota de
cinco, ao invés da de dez.
Um pouco antes de saltar do ônibus ele me chamou de
volta, tocou minhas mãos e olhando fundo em meus olhos me disse que não havia
me roubado: “por tudo que é sagrado!” Não tive escolha e fingi aceitar o que me
disse.
No dia seguinte, como que por milagre achei uma de dez
no bolso esquerdo.
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