sábado, 13 de outubro de 2012


EM NOME DO PAI

Passei por um outdoor que dizia: “Em nome do Pai do Filho e do Espírito da Empresa”, sei que em se tratando de publicidade chocar o consumidor em potencial é uma estratégia para obter a atenção.
Até admito que deve ter dado certo, caso contrário não estaria escrevendo sobre o assunto. E também entendo que com padrões morais cada vez mais flexíveis deve ser difícil chocar alguém, seja quem for.
Em favor da liberdade de expressão também pesa o fato de que as reações às imagens do jornal Dinamarquês foram exageradas, e colocam os chargistas na cômoda condição de vítimas. Se não fosse suficiente, a óbvia constatação de que a violência, além de abominável, é o argumento de quem não sabe argumentar.
O que me incomoda, no entanto, é que temos um arsenal de argumentos bem medidos, a velocidade da produção e a voracidade  do mercado quando se trata de atacar qualquer coisa que possa ser considerada sagrada.
Esta liberdade ilimitada, no final das contas, corrói, a si própria uma vez que o extremo de um fato pressupõe o seu oposto.
Quero, no entanto, dar um testemunho verídico e pessoal sobre o assunto: Lembro claramente do dia em que desprezei com uma frieza calculada um trocador que insistia que eu havia lhe passado uma nota de cinco, ao invés da de dez.
Um pouco antes de saltar do ônibus ele me chamou de volta, tocou minhas mãos e olhando fundo em meus olhos me disse que não havia me roubado: “por tudo que é sagrado!” Não tive escolha e fingi aceitar o que me disse.
No dia seguinte, como que por milagre achei uma de dez no bolso esquerdo.


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