sábado, 27 de outubro de 2012


SEM CERA

            Conhecer o significado das palavras de onde elas vêm e o seu colorido tem sido um de meus passatempos ultimamente.
            Isto, muitas vezes, explica a diferença entre sinônimos. Junito de Souza Brandão, em seus belos livros sobre mitologia grega diz que contemplar é observar templos e, considerar é observar o siderus, ou seja as estrelas.
            Observe que não há sinônimos perfeitos: o colorido das palavras possibilita que esta exausto não seja o simples cansaço, é não ter o último “hausto”, o ar que lhe dá vida.
            Do mesmo modo lembre-se se preocupar quando alguém disser que você está prestigiado, pois esta palavra tem a mesma raíz de prestidigitação que a ilusão oferecida pelos mágicos.
            A palavra que me acertou em cheio foi justo sincero, que vem da expressão sem cera. Esculpir sem usar cera para retoques era a forma dos grandes mestres: eles aceitavam o risco de obras sem retoques, onde suas falhas pudessem ser percebidas.
            Assim sou, quase sempre à beira da simples e pura falta de educação. Pelo fato de oferecer opiniões quando elas não são solicitadas ou sequer relevantes.
            Defeitos à mostra, já que qualquer qualidade em excesso transforma-se em um defeito brutal.
            Podemos repensar isto mas é tarde: meus pais, que nem sempre foram grandes mestres me esculpiram sem cera.  

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