Recentemente
me fizeram duas perguntas desconcertantes: se eu sonhava em ser bombeiro e o
motivo de gostar tanto de física.
Tudo
isto me remete a um dia quando eu tinha em torno de 12 anos e o Mano me chamou
para ver um episódio de Star Trek. Space the final frontier, these are...
Amor à primeira vista. Naquele dia eu soube queria ser Oficial da Frota
Estelar.
Meus
amigos queriam ser ricos, jogadores de futebol, famosos, cantores de pagode,
namorar todo mundo. Já eu... treinava para fazer o sinal de prosperidade Vulcano
com as duas mãos.
Algo
me dizia que não teríamos dobra espacial a tempo de eu me alistar na Frota. Mesmo assim, o que custava fazer minha parte? Então, qual deveria a ser minha
carreira? A lógica me indicava o curso de Física. A consequência disto foi a
primeira leitura de um livro de matemática, sem ninguém para me orientar, durante
as férias entre o sexto e o sétimo ano.
Óbvio
que no começo foi difícil e cada página deveria ser lida pelo menos umas quatro
vezes. Depois a substituição dos números por letras passou a ter sentido, então
ficou fácil. Durante o todo o ano seguinte mal a professora acabava de escrever
uma matéria no quadro eu já sabia onde ela queria chegar. Foi assim que comecei
a construir a injusta fama de aprender sem ter que estudar.
Naquele
mesmo ano meu pai passou uma temporada no Rio. Ele era uma versão moderna do
Dr. Jekill e Mr. Hyde, um dia bebia até cair, no outro lia um jornal da capo ao
fim. Em sua versão médico, me ensinava um bocado sobre ciências humanas. Assim
ele também me incentivou a ler de tudo um pouco. Ele adorava ler sobre política nacional
e internacional, chegando a me dizer que daria 5 anos de sua vida para ver Jimmy
Carter presidente.
O
tempo passou e eu estava fazendo o primeiro semestre na UFF, já estava conformado
a viajar somente no espaço da minha mente. O ato de me preparar para lecionar
física como meio de vida já se desenhava como uma grande paixão, justo quando
chega a notícia: “O velho tomou uns tragos para comemorar sua passagem no
vestibular e partiu”. Maldito Senhor Presidente dos Estados Unidos, eu odeio este gringo!
Não me importa se ele representa uma mensagem de paz...
Forçado a desistir do curso, eu tinha que buscar uma alternativa que me
sustentasse em pouco tempo.
Então
saiba que não fui bombeiro por vocação, mas por necessidade. Mesmo assim foram
trinta anos maravilhosos. E vamos combinar que era um passo muito mais
realista embarcar em um Auto Busca e Salvamento do que esperar ser tele transportado
para Enterprise.
Hoje
leciono para vários rapazes e moças que querem ser cadetes. Em meu íntimo sei
que que eles devem ter seus sonhos e lhes digo que o meu se realizou. Apesar de
todos os percalços tive uma trajetória pela qual posso me orgulhar.
Sigo
minha vida mantendo os ideais de igualdade entre as espécies, busca pela
verdade e indo onde nenhum homem jamais esteve. Navego em uma nave que já deu 55
voltas em torno de uma estrela de quinta grandeza, enquanto estou embarcado.
Tudo isto perfaz aproximadamente 55x2x3,14x8 minutos luz. Uma distância significativa,
apesar de minúscula em se tratando de viagens interestelares. A nave que
pilotamos tem recursos finitos e temos que aprender a lidar melhor com ela se
quisermos, como espécie, embarcar em outra a tempo.
Seja
como for tudo que posso dizer para os demais tripulantes é live long and
prosper.
Maravilhoso e ler uma crônica e entender tudo, por que simplesmente, eu estava lá. Um beijos no seu coração de cientista s poeta.
ResponderExcluirEsse é o Remo que eu conheço.Belo texto.E é ao mesmo tempo uma pequena biografia.
ResponderExcluirObrigado por partilhar suas estórias connosco. Não sei se você tinha vocação para ser Bombeiro, mas sei que você tinha coração para ser bombeiro. Este órgão que pulsa involuntariamente é todo o seu ser, involuntário e pulsante. Quem ganhou com a sua necessidade financeira foi CBMERJ, tu és um dos mais brilhantes oficiais da nossa Corporação.
ResponderExcluirCostumo dizer que elogio de amigo ou critica de inimigo não valem pelo mesmo motivo. Apesar deste comentário vir de finte anônima tenho certeza que foi feito por alguém que me quer muito bem.
ExcluirDe qualquer forma fico envaidecido com tamanho elogio.