Chego na aula de canoa havaiana e logo me deparo com uma pergunta bem difícil: “Quem é você?”, já seria complicado dizer o meu nome, ainda mais as sete da manhã, quando nem sempre se está acordado. Poderia até filosofar um bocado. Nisso um cantinho do cérebro grita: “Eita! Pergunta difícil”.
Minha saída é tentar um pouco de humor e poesia: “não sou
um Remo que rema, sou um Remo que rima”. A professora ri, e logo muda de assunto
se coordenando com seu marido. Ela explica a forma correta de colocar as
alavancas na água, enquanto ele dita as devidas normas de segurança.
O tempo todo acho que estão me chamando, as tais
alavancas compartilham meu nome, então é remo pra cá, remo pra lá, Remo rema
direito, me passa o remo; Remo, presta atenção. Algo muito incomum em minha
vida, perceba que tendo um nome desses quase não conheci xarás em minha
trajetória.
O ritmo hipnótico me faz pensar no que é efêmero e o
que é eterno. Só que não tem jeito o trem dos pensamentos não sai da questão da
identidade, não aquela da foto, mas a reflexão do que somos de verdade.
É a velha questão do ser e do estar que se embolam na
língua inglesa, só que no falar de Camões permite que se esteja Ministro da Educação,
posto que assim não se nasce, nem se permanece.
Sei que já cantei muito por aí: “Somos bombeiros,
bravos guardiões...” somos quem, cara pálida? Hoje em dia nem consigo distinguir
um extintor de gás carbônico de outro de pó químico seco.
Se você quiser saber um pouco mais de mim, posso até
dizer que tenho 58 anos, só que o tempo não me pertence.
Sou aquele tipo de farsa que se diz professor, o fato é
que não tenho formação para tanto, e as certezas tão necessárias a essa nobre
arte vivem escapando de minhas mãos.
Termino a remada e agradeço ao casal que me ensinou
tanto em tão pouco tempo, essa coisa fugidia que tentamos agarrar pelas sobrancelhas,
justo por ser careca. Devolvo o colete e o remo, e penso tiraram o remo de mim,
porém continuo sendo Remo. Logo percebo que a professora também tem veia
poética e sorrindo me diz: “de agora em diante você é um Remo que rema e rima”.
Engraçado, na maioria de meus textos não tenho a mínima
intenção estética de fazer as palavras combinarem somente pela coincidência de
suas últimas sílabas. Quando elas combinam deve ser algo que no mínimo venha a
quicar no coração. Também não é por isso que vou sair dizendo por aí que sou
remador. Até porque a graça da história toda é estar na busca ao invés de dizer
que sei quem sou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário