sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O polegar do diabo

 Ganhei um grande presente de um grande amigo. O Assueiro indicou um livro porreta e esse conta a história de quando as modificações genéticas ocorridas ao acaso trazem melhoramentos. Imagino que se você é nerd, como eu e o meu amigo, sempre sonhou em ter algum fator genético peculiar, mas... peraí, a ideia é péssima pois tais diferenças genéticas quase que invariavelmente são traduzidas na vida das pessoas como doenças.

Até mesmo quando trazem algo único e admirável tais modificações podem tornar a vida do super-herói em uma odisseia, como é o caso do violonista que tinha uma doença impronunciável que tornava suas articulações absurdamente flexíveis. Então apesar dos inconvenientes diários o gênio era capaz de performar e produzir notas impensáveis para os mortais.

Como todo mundo vê os tombos e não sabe a cachaça que os outros bebem era muito mais fácil dizer que a sua habilidade viria de um pacto faustiano com o infame anjo, caído, da luz. Em resumo, ninguém quis saber quantas horas dele foram dedicadas ao violino.

Estou no lado oposto dessa trama, do mesmo modo que insisti em aprender a pegar jacaré apesar de nadar mal pra cacete. O que se resume naquela velha vocação a autodestruição tão comum aos adolescentes. Na mesma vibe tenho passado os últimos oito meses tentando aprender a tocar violão, um sonho antigo que só agora encontrou espaço na minha agenda.

O processo semanal tem sido repetitivo. Nas quintas assisto a aula do professor Renato e fico encantado com a habilidade que se reflete na relação dele com o violão e com a gente, afinal ele é violonista como poucos e gente como a gente.

No dia seguinte é o desespero de tentar reproduzir o que conseguimos sob a portentosa égide (gastei o latim) do mestre. Depois o aprendizado de verdade acontece com horas de bunda na cadeira e no caso específico do violão no contar dos calos nos dedos.

No fim das contas aqui estou eu de novo com a mesma sensação que tive diante da onda de dez pés que me exigiu nadar de verdade mesmo sem saber. Hoje o nome dessa onda é Oceano, uma composição fodástica do Djavan.

Sei que posso morrer na travessia, pois amar é um deserto e seus temores. Mesmo assim lá vou eu habilidade tendendo a zero e teimosia tendendo a mil sabendo que no fim das contas vou atravessar esse oceano, mesmo que seja no nado estilo cachorrinho.  

Um comentário:

  1. Ter um oceano pela frente , é moleza pra quem ja viu fogo, chuva e muito mais , vai que tua...

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