Semana passada fui ao dentista, como era a primeira consulta tive que explicar que minha esposa não pôde ir, desculpas aceitas e logo me veio em mente que essa mesma história não passaria em brancas nuvens há 40 anos.
Naquela época eu era um nerd desengonçado e a qualquer
momento que eu dissesse aos meus amigos que minha namorada não poderia vir alguém
logo perguntava: a garota imaginária?
Essa mesma! Eu fingia que estava tudo certo, quem sabe
essa tal garota que povoava meus sonhos era a verdadeira expressão da raiz
quadrada de menos um. (ria! Isso é uma piada, mas se você não entendeu assista
minha aula sobre números complexos, e não se esqueça de deixar um like e compartilhar).
Naquele tempo eu vivia o paradoxo do panda. Queria ser
fofinho, mas o caldeirão de hormônios me empurrava inexoravelmente a condição
de macho tóxico (o que leva os tais pandas a constituírem uma espécie em risco, pois os
machos, definitivamente, não sabem lidar com as fêmeas). Eu era um ser fadado a
extinção caso não encontrasse muito rápido uma solução para o dilema. O que
pode explicitado pelo fato de que nunca vi uma garota voltar para dizer que
tinha curtido o grito de GOSTOSA! OH, LÁ EM CASA! E dizer: que legal também estou
a fim de você.
Repare que isso era comum na cultura da época, basta
ver os programas humorísticos das décadas de 70 e 80 para entender o porquê de não
sabermos nos aproximar das meninas sem parecer verdadeiros ogros. Erámos teleguiados
por uma cultura que reduzia o feminino a louras burras ou mulatas do 88.
Fui salvo por um velho babava enquanto via passar uma
linda jovem, cujo andar sincopado, o tornava depressivo diante da tal garota
que nem se dava conta de seu desespero.
Outros o foram pelo programa “Sai de Baixo” que evitou
um monte de suicídios no crítico horário do fim do domingo, justamente quando
as lojas se fecham e a depressão bate. Era o momento em que a tristeza desvanecia
diante da fala: “Poxa que coxa, Magda!” Na mesma catarse que a menina que passa
se transforma em música a caminho do mar de Ipanema.
Enfim, a arte nos salva da barbárie.
Sei que meu papel pode parecer o mais difícil de desempenhar.
De fato, ser um lobo da estepe, não é para qualquer um. Entretanto, não vou me
fazer de vítima das circunstâncias, pois para cara de mais de quarenta que pede
perdão por não saber muito bem o que estava fazendo há sempre uma menina com um
monte de indicadores em sua direção por saber exatamente o que estava fazendo.
Nos cabe entender que o papel de herói nessa história
cabe a elas, cada uma que não ficou adormecida esperando um príncipe otário e
foram à luta. É passada a hora de deixar de lado o poxa que coxa, Magda para
dizer: poxa que cérebro, Mariza.
Cronica digna de um estudo de doutorado.
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