O improviso substituía tudo dois postes serviam de suporte para a rede, o meio fio servia de limite lateral, o asfalto de quadra.
Assim que a rede era armada algo mágico acontecia, acredito que quem era fominha de verdade sentia o cheiro e logo a rua estaria lotada.
Entre pontos e vantagens lá ia o set, o esforço era tanto que rolava até peixinho no asfalto. Quem perdesse ia ter que ficar um tempão de fora.
Assim era a Rua 3. E a coisa foi ficando tão animada que até olimpíadas rolaram, com futebol de salão e vôlei misturados com esportes nada olímpicos como buraco e pau de sebo.
Eu não tinha entendido a grandeza do que ocorria na época, nem mesmo o porte do Ponês, que era o cérebro que organizava o caos.
Eu gostava tanto de jogar vôlei que até poderia ter aprendido. O vôlei era muito mais inclusivo para mim, pois ao jogar futebol sempre troquei os pés pelas mãos, o que influenciou decisivamente para minha individuação tanto esportiva quanto psicológica.
Mesmo assim aprendi muito ao jogar na rua, e foram coisas que me acompanham até hoje: O tempo é relativo, na quadra passa rápido do lado de fora o ponteiro dos segundos pensava que estava marcando as horas. Lidar com a zoação faz parte, desde que ninguém seja humilhado, devemos ganhar com elegância e perder com dignidade. Não saber limites é um risco, pois cair sobre o meio fio dói um bocado. O décimo quarto ponto levava o nome de boa, e o décimo quinto é o mais difícil, pois vôlei se joga com o corpo todo incluindo a cabeça.
Porém de todos o melhor aprendizado foi entender que um abraço é uma forma de reconhecimento melhor que uma medalha. E isso o Ponês sempre soube fazer como ninguém.
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