quinta-feira, 30 de outubro de 2025

DI VER GENTE

Tendo lecionado física por anos a fio, tenho guardado em meu acervo uma série de piadas de nerd. Coisas como: “Por qual motivo não adianta um míope usar óculos para ir a um zoológico?”... pausa interminável... “porque usa óculos com lentes divergentes, e não de ver bichos.”

Na última vez que mandei essa, foi em um pré-vestibular. Lá recebi uma pergunta engatilhada e inusitada: “Por falar nisso prof., como você conseguiu ser bem-sucedido sendo tão neuro divergente?

Bem que eu poderia ter, naquele momento, uma resposta interessante. Ao invés disso apenas chorei... de tanto rir.

Quando eu mesmo era aluno (estou proibido de usar a expressão: no meu tempo), não era muito comum esse (ou qualquer outro diagnóstico). Logicamente é necessário que possamos refinar nosso autoconhecimento, assim como está gravado em pedra no templo de Apolo, sob a máxima de conhece a ti mesmo.

O lado positivo dessa confusão é que a gente simplesmente tocava a vida em frente, mesmo sem saber o sabor das massas e das maças. Durante o preparatório que mais tarde me levou a ser cadete do Corpo de Bombeiros a máxima era outra: não pare para filosofar, todo tempo deve ser usado para os estudos.

Refletindo com calma deveria ter dito a aluna que o que nos salva é o afeto, pois olhando de perto ninguém é normal, seja lá o que isso for (lembrando que coisas estranhíssimas já foram consideradas normais, cito apenas ser escravocrata). Enfim se você é agitado, teimoso, ansioso, habitante do mundo da Lua, esquecido, mal enjambrado ou alucinadamente focado em algo que todas as outras pessoas consideram inútil pega uma senha para entrar no meu time. Nele encontre quem goste de você, começando por você mesmo.

sábado, 25 de outubro de 2025

Cocô de grilo

Parece que dizes te amo, Maria; assim descreve uma linda canção a imagem da amada. Como se trata de um momento ido basta por uns grilos na caixa que o tal retrato parecerá envelhecido. Espero que você não saiba disso: alguns relacionamentos envelhecem além do relógio.

Um bom exemplo é o texto que você está lendo bem agora. Grilos na caixa não são mais necessários para mudar fotos ou documentos. Desde que não sejam grilos na cuca (gíria que também envelheceu mal). Enfim, grilos para a cabeça e documentos físicos ainda são necessários. IA para o que for virtual resolve bem.

O digo com certa tranquilidade, pois a IA já traz embutida alguns grilos. O primeiro contato que tive com a expressão foi com um (lindo) filme que reproduzia a saga de Pinóquio. Aqui o grilo já cantava nos livros de Asimov: será que que os robôs vão ser mais humanos que nós?

Outro grilo é a quantidade de energia e água que se gasta para simular um retrato em branco e preto. Temos um planeta só, que apesar de ser grande o suficiente para que alguns incautos possam até pensarem que a curvatura é plana, tem dimensões e recursos limitados. Então, não se iludam: Marte pode parecer estar bem ali, mas os nossos intestinos não se agradam muito da viagem, pelo menos por enquanto.

O grilo derradeiro, ao menos nesse texto, parece com aquele trabalho de escola feito pelos pais. O que tempera a farsa na qual a escola finge que paga os professores, esses fingem que ensinam aos alunos que fingem que aprendem, para os pais fingirem que estão satisfeitos.

Fica o questionamento: por que raios estou escrevendo se uma IA o faz melhor? A resposta é a mesma quando pergunto o motivo de tocar violão se existe um tal de Baden Powell. Ou seja, não há uma resposta, pelo menos para mim. Não tenho ideia da razão de aceitar tantos calos nos dedos. Mesmo assim pego emprestadas as palavras da Cecília e canto porque o momento existe.

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Não adianta nem tentar me esquecer

O que Pintura íntima, Every breath you take e Detalhes têm em comum? Além de serem, cada uma ao seu estilo, boas canções. O fato de que elas não falam sobre o amor. Ou, pelo menos, o que eu entendo ser o amor.

Em minha recente trajetória, aprendi a tocar as três, o que somado a uma enorme falta de habilidade demanda muito esforço e tempo. Assim sendo acabo me deparado com cada um dos versos longamente. Isso tudo me oferece a possibilidade de ter uma interpretação mais cuidadosa do texto, além da curiosidade sobre o que motivou a composição.

Acabo sabendo que a Paula conta a história da namorada de um dos músicos. Tal menina não o queria como baterista e sim um cara sério. Consequentemente, o tirar da bermuda não seria para fazer amor e sim para pôr uma calça que o levasse a um escritório. Sting é mais óbvio ao falar de um perseguidor, ao invés de um amante.

Já o Rei... Bem, lá vou eu ser cancelado. Logo eu que tenho me escondido atras de um violão para evitar polêmicas. Em minha defesa cabe lembrar que já escrevi: “perdoem meu coração aberto: amo o Chico, mas também gosto do Roberto”. Oooops, não adianta muito. Ao dizer isso serei cancelado por outros.

Voltando a vaca fria... Roberto não pede reconciliação ele apenas quer assombrar aquela que já o amou. E tanto tentei tocar aquele ritmo sincopado que acabei por odiar a letra. Afinal a amada não vai ter paz nem mesmo quando desesperada tenta até o fim.

Definitivamente não quero ter que lidar com quem afirme que longe de seu domínio eu vá de mal a pior, que esteja olhando cada passo que eu dê ou mesmo que haja como um fantasma em minha vida. Infelizmente, é muito comum que ralações tóxicas sejam confundidas com amor. Por exemplo, há uma canção conta o relacionamento da Bela e da Fera. Portanto, não importa muito se o namorado é ciumento, desagradável ou até mesmo violento. No fundo do coração se trata de um príncipe.

Tudo isso ser embalado por músicas que não saem de nossas mentes ou tocam nossos corações pode levar a um desastre. Mesmo assim não vou lhe apontar nenhuma solução fácil. Talvez o que o Erasmo diga possa estar certo para a sua vida. Que no fim das contas é sua, não minha. É sua escolha pensar que é melhor estar mal acompanhada do que só. O único alerta que fica é contar até três (se precisar conte outra vez) antes de beijar o próximo sapo.  

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Julian, não carregue o mundo

Era uma vez um menino em uma família disfuncional, até aí qualquer um pode se identificar com essa história. Todo mundo já foi criança um dia e todas as famílias são disfuncionais de alguma forma. Então algo acontece, tão dramático quanto Hefesto jogando uma rede inquebrantável sobre Ares e Afrodite.

O lance é que o pai do menino estava tão loucamente apaixonado por uma garota que chegou ao ponto de levar ela para sua casa. Lógico que deu zebra.

Ai a notícia, carece de exatidão: o lar não mais existe.

Como todo menino tem a fantasia de carregar o mundo, esse também deveria se sentir responsável pela separação. A depressão passa a ser quase inevitável. O salva um amigo de seu pai faz o melhor que pode pelo pobrezinho: poesia e música.

Misturando Julian e dude (cara), Paul o chama para a cantar vida lá fora. Assim demonstra que aquele fardo não era dele.

Aqui a associação com Atlas é inevitável. Quem pode trazer um alívio, mesmo que breve ao condenado a suportar o firmamento pela eternidade? Nenhum deus está disposto a isso. Somente uma alma humana poderia fazê-lo. Então é Hercules que vai desempenhar esse papel. Não se trata de um objetivo, aquilo que chamamos de um de seus 12 trabalhos. É apenas algo que acontece, assim, meio que de passagem entre uma atribulação e outra. Pois assim (até) podem ser os humanos.

Esse é só um dos infinitos dramas que podem assaltar nossas almas. E nem sempre há alguém para jogar uma boia enquanto naufragamos num mar de lágrimas. No caso específico uma das composições mais bonitas e vibrantes já escrita! Sabendo disso tudo, pode até ser que essa leitura também seja uma boia. Enfim, deixe que música, poesia ou metáforas deem conta daquilo que pode nos esmagar sob um peso insuportável.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

A B S O L U T A M E N T E

Na versão Doctor Jekyll meu pai tinha um hábito muito peculiar, comprava o jornal de domingo e o lia de cabo a rabo durante uma semana, o que incluía até os classificados. Se você não se preocupa com calvície ou rugas cabe explicar que Jornal era o youtube daquela época, só que feito de papel. Já os classificados eram as inserções de publicidade.

Ou seja, quando as garrafas estavam longe dele tínhamos conversas bem interessantes, pois ele nunca me tratou como criança. Penso, que foi dessa relação atávica que veio minha admiração pelas nuances das palavras. É lógico que eu jamais iria trazer questionamentos que pudessem retirar a outorga de ser tratado como adulto. Portanto, nunca perguntei o porquê das palavras queijo e inhame haviam sido trocadas no berçário, fazendo que algo ruim tivesse um nome maneiro e algo delicioso tivesse um nome estranho.

Tal estranheza, não me impediu de perguntar como uma palavra tão desajeitada como misericórdia trouxesse um significado místico. O que resultou em uma aula magnífica. Assim pude entender que as palavras são seres vivos com origem, maturidade, velhice e óbito; sem contar com suas capacidades de gerar descendentes. O que é definitivamente o caso de coração, que perpassa desde coragem a decorar.

De todos os casos, todavia o que mais me assombrava era a ausência do não no vocabulário do velho. Quase sempre a oposição seria enfatizada com: NEGATIVO! Outro recurso era negar balançando a cabeça ora destra, ora sinistra acompanhada pela fala de: pois sim! Ou melhor ainda, o lento mastigar de... a b s o l u t a m e n t e!

Então, quando aprendi o conceito dialético de que toda afirmação predispõe a negação, bastou lembrar o olhar atento de Paulo Albuquerque. Isso tudo foi um aprendizado espetacular. O único problema foi entender que absolutely, quer dizer isso mesmo nas aulas de inglês. Tudo bem, é bem comum lidar com pessoas que dizem sim quando é sim e não quando é não. Ao caminhar pelas ruas de minha vida também tive que entender que nem todos possuem a perspicácia de quem tem o estranho hábito de ler.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Quando São Januário é Santo Antônio

 Mariana e Thalles foram comigo a São Januário, mas antes de contar a história deles vou contar como cheguei em casa naquela noite. Arrasado, para resumir em uma palavra.

Se você não torce para o Vasco talvez não entenda. Caso queira assista o vídeo do Porchat falando sobre a relação bipolar que temos com o nosso técnico o amado/odiado Diniz.

Pode ser que você prefira nos entender a partir dos músicos que nos abraçam, não com a calma do Paulinho da Viola, e sim o Martinho da Vila pedindo ao seu amor para lhe curar de um porre, ou mesmo Roberto cantando que se chorei ou se sorri...

Chega de tanto fugir do tema. Vamos ao ponto. Se você quer ver um jogo nosso time faça-o com a devida antecedência, ou simplesmente não dá (a não ser que esteja disposto a ser esfolado por algum cambista na Rua Roberto Dinamite 10).

Píramo compra o ingresso para o setor vip, Tisbe para a arquibancada. Oooooops, na verdade Thalles a sua linda esposa, Mariana. (sei que nessa altura do campeonato você deve estar me xingando pela referência – nada feliz – da mitologia grega). Então o lindo casal está de mãos dadas e coração atado, porem s e p a r a d o s por um alambrado.

O segurança informa: “Não posso fazer nada.” Digo para ele: “cara tenha pena dele, ela é linda, mas é braba. Ele vai apanhar quando chegar em casa!”. Mas não adiantou. Chega o Guilherme, perdido lá de Carmo e me distraio; “Q c tá fazendo aqui maluco?”. Pois assim é São Januário.

Desistimos e vamos para nosso setor.

Mas não fique triste. Logo chega o Thalles, tasca um beijo cinematográfico na Mariana. E o final feliz chega junto com o gol do GB aos 51 do segundo tempo.