sexta-feira, 23 de novembro de 2012


FIRE AND RAIN

“Sweet dreams and fly machines in pieces on the ground.”

Antes de tudo devo começar qualificando este texto, que nada tem de científico, afinal são apenas reflexões de alguns anos de aulas e outros tantos como bombeiro. Assim se tivesse que haver um fundo musical seria o James Taylor, quase recitando o que traduzido seria do tipo “Eu vi incêndios, eu vi chuva, e alguns dias de sol que me fizeram pensar que nunca choveria...”
Tudo o que quero dizer começou após um terrível acidente que ceifou a vida de cinco jovens no que seria um carrão da época, então passei a introduzir em minhas aulas (física, amigos – o que explica minha forte tendência à loucura) algumas questões que envolvem ética e cidadania. No espaço acadêmico eu discuto sobre a importância dos equipamentos de segurança, como capacetes e cintos. O papo começa com um gancho oferecido pelo Carl Sagan, em uma recomendável obra chamada Os dragões do Éden, na qual ele compara o risco de queda de uma árvore, o que nos amedronta terrivelmente, ao de se acidentar correndo, o que nem sempre nos faz temer. Segundo ele isto ocorre devido ao fato de que evolucionariamente falando descemos das árvores, e nunca fomos corredores realmente interessantes.
Vejamos então que esta questão se inicia com cálculo de energia, vamos a ela: “o que você acha de um motociclista que vai logo ali padaria, devagarinho, sem usar o capacete?” Intuitivamente os alunos me dizem que não há nada de mais, apenas um exagero da lei. Vejamos o que dizem as de Newton: a 36 km/h (10m/s) temos a mesma velocidade de alguém que cai de 5m de altura (quase dois andares). Se duvidar faça os cálculos você mesmo (v2 = vo2 + 2ax), uma continha proposta por Torricelli, que por sinal se multiplicarmos por m/2 nos trará a correlação entre a variação de energia cinética (mv2/2) e o trabalho (Fx).
Aqui a coisa complica, alguém sempre vai dizer: “mas professor quando um objeto cai o peso aumenta” (o que só seria possível se mudássemos o campo gravitacional, indo por exemplo para Júpiter – sem contar a possibilidade de alguém ainda estar confundindo massa com peso).
Para piorar as coisas sei que há por ai um cálculo simplificado que diz exatamente isto, o que serve para comparar o soco do Mike Tyson com o do Maguila, porém sobre esta conta, que muito pouco ajuda na compreensão holística do fenômeno, a única coisa que posso dizer é que você não deveria chamar nenhum dos dois para uma briga. Afinal em uma delas Tyson quebrou a mão o que prova a terceira lei, e explica o fato de que os lutadores de boxe usam luvas para proteger as mãos e não a cara dos outros.
No caso específico de um soco há uma série de fenômenos ocorrendo simultaneamente, então para entender o que ocorre deveríamos considerar a força, o seu ponto de aplicação, se há ou não movimento rotacional (e como, e quando isto ocorre), o tempo de impacto - o que os caratecas chamam de kimê (se é que se escreve assim!) – a massa do braço daquele que bate, a sensibilidade do local atingido, o ângulo do impacto... e como se trata de uma questão que envolve energia, um importante fato é saber como dissipa-la, para minimizar os seus efeitos, que os digam os carros de formula 1, nos quais tudo se destrói com este intuito, preservando a célula de segurança, ou mesmo um simples rolamento feito por um jogador de vôlei. Sem contar com uma miríade de outros enfoques para entender as colisões.
A guisa de exemplo, neste papo podemos ainda considerar uma grandeza chamada de quantidade de movimento, que tem profunda relação com outra chamada de impulso, e se estivéssemos dispostos a levar esta discussão à diante, chegaríamos a uma interessante conclusão sobre a importância do tal do kimê, mas esta fica para depois.
O quero dizer no frigir dos ovos é que não posso deixar de ficar fascinado por incríveis sobrevidas em alguns acidentes que já acompanhei. Em um deles, por exemplo, uma moça saiu ilesa, simplesmente por ter caído exatamente em um buraco que mal cabia o seu corpo, e sobre ela algumas toneladas de um ônibus que havia capotado.
Não sei se Galileu estava certo quando disse a linguagem de Deus ao escrever o universo foi a matemática, só sei que eu estou passando por aí, e entre uma conta e outra vou dando o testemunho de Sua grandeza e sabedoria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário