VIDA DE CACHORRO
“Adormeceu em minhas mãos como um menino: só,
sem destino, um pequenino cão.”
Que bicho você
gostaria de ser? É uma pergunta que sempre me ocorria quando criança, e de um
modo muito interessante voltou a povoar meu imaginário ultimamente.
Uma grande
amiga, que apesar de morar perto tem sido muito mais presente nas minhas caixas
de mensagens do que em meu contato diário; por exemplo, usa o belíssimo
codinome de águia. Sei que ela voa altaneira nas redes do mundo e sempre volta
com belas mensagens.
Outros são
lobos, há algumas potrancas, outros ainda cavalos, sem contar as tantas vezes
que usamos animais para (des)classificar as pessoas.
Sou um
cachorro, não se trata de imaginar o que eu poderia ser, sou um cachorro,
reafirmo.
Hoje, tive
esta confirmação deste fato quando decidi andar de bicicleta para suprir a
insônia. Comecei a subir o caminho para Duas Barras, em uma estrada conhecida
como “Astreia” (eeeeiita nome esquisito, por sinal!).
E lá me
encontrei com ele, um vira-lata, com um marrom comum, adulto mesmo não sendo um
cachorrão. Confesso que tive medo, pois ele apareceu do nada, e (pela primeira
vez) quase foi atropelado indo de um lado para outro logo à minha frente. Não
demorou nada para que o medo fosse dissolvido pela total amabilidade do Totó (como
podemos perceber não consegui pensar em um nome melhor... me perdoem).
Ele seguia firme
as minhas pedaladas morro acima, com uma disposição alegre, e como era bem
tratado descarto a possibilidade daquela cena que os filhotes fazem com jeito
de “me adota”, porém o que aconteceu foi muito perecido com isto.
Não resisti ao
seu charme e parei para fazer uma festinha. Ele, então se jogou no chão com as
patas para o ar e a barriga exposta, assim são os cães quando amam.
Voltei a pedalar, agora ele se sentia mais a
vontade e passou tão rápido que quase o atropelei (vai contando esta foi à
segunda vez).
A
identificação foi tanta que vocês já devem estar pensando se este texto se
remete a um fato real ou não passa de ficção, não os culpo. Eu mesmo não sei se
encontrei o meu totem animal ou se era um cachorro de carne e osso. Seja lá
como for, a realidade como conhecemos se tornou irrelevante: há em mim um
coração que late alto com curiosidade, agilidade, lealdade, dentes afiados
(caninos eu diria) em busca de um caminho, seja este numa casa quentinha ou
vagabundeando por esmolas na cidade fria.
Fiz outra
festinha. É bom encontrar comigo mesmo. E se você vir alguém assim lembre-se
que nós (cães) temos uma perspectiva própria e vemos de baixo para cima toda
vez que alguém pode ser o nosso dono, então não seja ameaçador dando tapinhas
falsos na nossa no alto da cabeça. Ao invés disto, seja generoso e mexa em
nosso pescoço espalmando a mão amplamente, isto é um verdadeiro eu te amo para nós. Além de uma chance
de se por em uma posição em que olhos nos olhos seja inevitável.
Terminei minha
subida o relógio me chamou para mais um dia, Totó quase foi atropelado pela
bike ao passar distraído de um lado para o outro (de novo). O que interpretei
como um misto de imprudência, expressão de liberdade e principalmente confiança
em seu mais novo amigo.
Qual foi o
significado? Bem... Acredito precisar de uma vida inteira para responder.
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