PORTAIS
Pode parecer exagero, mas nada afasta de meu
pensamento o fato de que shoppings são portais.
Sei que citar certos seriados de tv nos leva ao risco
de adivinharem a nossa idade ou de deixar nos mais novos a impressão de que
estamos falando abobrinhas, mas a comparação com “O elo perdido” é inevitável.
Para quem não tem a mínima ideia sobre o que estou
falando cabe explicar que se trata de um seriado antigo com efeitos especiais
mal acabados (para os padrões atuais), no qual pai e filha se perderam em um
mundo onde dinossauros conviviam com primatas feiosos e, onde havia portais que
levavam para outros mundos.
Assim são os shoppings.
Não importa se você está em Arapiraca ou Nova Iorque é
possível encontrar um lugar fechado, com cheiro de ar condicionado, grandes
lojas, grandes marcas emolduradas com placas onde se lê: “for sale”.
Tudo bem que há uns poucos nos quais a cultura local é
um tanto preservada, porém até isto só me aumenta o incomodo, porque em geral
esta vem em um invólucro de plástico, que de alguma forma, vai tornar este
aspecto em mais uma forma de acomodar o pote de misturas a uma visão globalizante.
Se for natal a coisa se agrava, seremos capazes de ver
pessoas agasalhadas em vermelho, não importando se o portal for um destes do
hemisfério sul, onde apesar dos esforços de tornar tudo sempre igual Gaia (a
mãe Terra) pensa que ainda é verão.
Me lembro da primeira vez em que vi “Happy new year”
na vitrine de uma loja da Nossa Senhora de Copacabana, ao incomodo seguiu a
tradução de meu primo, que há trinta anos passados já era fluente em inglês. A
sensação de que era um macaco (chamado Tchaca ou coisa que o valha) diante de
um portal se abateu sobre mim pela primeira vez, só que naquele momento não fui
capaz de definir isto.
Só pude ter uma percepção mais clara sobre o assunto
quando Luis Gonzaga foi substituído por Michael Jackson como tema nas festas
juninas. Era o momento certo de alguém pegar o microfone e reclamar
veementemente, mas isto não aconteceu. No fim das contas este processo chegou a
tal ponto que as pessoas já acham normal startar,
ao invés de iniciar, uma reunião.
Hoje ainda me sinto tonto quando entro em um shopping com
todas as luzes, cores e lojas de sempre... Deve ser o efeito colateral de
entrar em um portal.
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