domingo, 26 de agosto de 2012


                                        LADRÃO DE CEBOLAS

“Há um menino há um moleque...”

Para tornar simples esta história vamos ao fato principal: um menino devolve constrangido as cebolas que tinha pego no mercado logo após ouvir a seguinte frase do segurança: “amigo tá na cara que você não precisa disto, você não acha que é uma vergonha sem tamanho?”
Não sei se nestes tempos “evoluídos” isto poderia ser aceitável. Há tantas restrições no trato com as crianças, que no final das contas é capaz do segurança ser mandado embora por injusta causa por não abordado o infante (ou seria infame?) sem o acompanhamento de pelo menos um psicopedagogo, para determinar como não traumatizar o coitadinho.
Mas, isto era antigamente, e naqueles tempos até cascudo valia. E a tal falta de vergonha na cara seria motivo de uma humilhação sem tamanho. Este caminho nos formou, então vejo por aí (na maioria dos casos) gente de bem com a chamada vergonha na cara.
Outro dia, por exemplo, fui xingado de “Senhor Certinho”, como se isto fosse motivo para me abalar. Assim tem sido, desde de que Rui Barbosa determinou que as pessoas acabariam tendo vergonha de ser honestas, e olha que ele não fazia idéia de a que ponto iríamos chegar.
O fato é que um longo caminho nos moldou (isto é... alguns dos antigos!) de tal forma que somos capazes de fazer esforços quase impossíveis para evitar dilemas éticos.
Sei que isto foi fruto de uma sociedade neurótica que em diversos caso nos leva a preocupações que não passam de ilusões.
Mesmo assim vamos lá qual é a alternativa? Uma criança fazer pirraça até ninguém mais suportar e ter seus país como reféns? Ver uma criança bater na cara da mãe e ficar por isso mesmo? Dizer aos quatro ventos que meu filho vai ter o que eu não tive?
Não sei se existe a palavra normótico, mas é isso que parece. Incomodar outros é normal, tirar vantagens também, atropelar valores, idem. Assim vamos educando filhos para a selva, um lugar onde cidadãos têm que se esconder atraz de grades.
Bem, me parece que estou na contra-mão pois os meus têm que ter alguém para dizer não na mesma medida. Peraí gente, é claro que não sou favorável a bater até confessar, jogar duro não quer dizer ser desleal, não importa se o juiz tá vendo ou não.
Quanto a isto posso dizer que tive um grande exemplo. Minha velha me comandava com o olhar. Eu sabia se podia aceitar o bolo ou não só pelo jeitão dela. Imaginem, então quando me chamava no canto e ela levantava o dedo... Não acredito que eu errava só para irritar ela, crianças não deveriam ser assim, só que as vezes isto acontecia.
No cômputo geral fiz uma série de besteiras na minha vida, mas desde que fui apanhado por aquele segurança, penso duas vezes para saber se não corro o risco de passar vergonha.
Não se trata de honestidade, mas de vergonha: o fato é que nunca mais roubei cebolas.

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