domingo, 12 de agosto de 2012


O UNIVERSO EM UMA CASCA DE NÓS

“Oh Mar salgado,
Quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal?”
Fernando Pessoa

As caravelas podem parecer imponentes nas velhas pinturas e nos livros texto das aulas de história. Pasmem! Elas não chegavam ao tamanho das cantareiras que fazem a travessia Rio Niterói.
E isto explica o porquê de na época o oceano Atlântico se chamar Mar Tenebroso. Assim como outros acidentes (nunca uma palavra foi tão bem escolhida!) geográficos de Cabo das Tormentas e Cabo do Medo, entre outros nomes inspirados pelos apavorados marinheiros.
Então, quando os portugueses cantam em verso e prosa o nome de Vasco da Gama eles tinham os seus motivos.
Os riscos que estes navegantes corriam na época fariam que outros de outros tempos ficassem realmente assustados. Em um extremo ponho Ulysses que na busca por Ítaca navegava no Mediterrâneo (comparado ao Atlântico e Índico é fichinha) e, no outro ponho os que primeiro pisaram na lua (o que meu cunhado contesta veementemente – pois a filmagem teria sido feita em algum lugar do Atacama) tinham uma tecnologia relativamente segura para ir onde nenhum homem jamais esteve. Afirmo, sem medo de errar, que comparado aos dois casos a aventura dos nossos colonizadores foi de uma audácia muito maior.
Uma consequência lógica disto seria o que ocorreu durante este processo: em Lisboa foi edificada a melhor escola de navegação da época. Fazendo com que os caras, que já eram bons, se tornassem excelentes no que faziam.
E tudo isto para conseguir coisas como canela, pimenta do reino e cravo da índia, que hoje podemos comprar baratinho no mercado...
Então, por que eles iam tão longe, destruíam tantos barcos, permitiam que tanta gente morresse tentando?
Sei que muitas pessoas me responderiam com uma lógica insofismável que a margem de lucro compensava tudo isto: pois quando um barco voltava inteiro, a sua carga valia o suficiente para fazer vinte outros, e ainda sobrava o bastante para toda a tripulação.
Esta resposta não me convence, pois quando se trata de por o pescoço à prêmio deve haver uma motivação intrínseca. As pessoas se tornam o que são por viverem o extremo de si mesmos. E quem foge disto vai ser um eterno frustrado, o tipo de pessoa que poderia ser isto ou poderia ser aquilo, e conta tudinho que não foi em mesas de bares da vida.
Afinal, como determinou Hawking vivemos em um universo que flutua em uma casca de nós. Percebo, então, que no fim do dia isto nos leva a condição de navegantes de nós mesmos.
Quando me pergunto se isto tudo vale a pena percebo que é hora de re-ler a poesia de Fernando Pessoa que citei logo no começo.




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