O UNIVERSO EM UMA CASCA
DE NÓS
“Oh Mar salgado,
Quanto do teu sal
São lágrimas de
Portugal?”
Fernando Pessoa
As caravelas podem parecer imponentes
nas velhas pinturas e nos livros texto das aulas de história. Pasmem! Elas não
chegavam ao tamanho das cantareiras que fazem a travessia Rio Niterói.
E isto explica o porquê de na época o
oceano Atlântico se chamar Mar Tenebroso. Assim como outros acidentes (nunca
uma palavra foi tão bem escolhida!) geográficos de Cabo das Tormentas e Cabo do
Medo, entre outros nomes inspirados pelos apavorados marinheiros.
Então, quando os portugueses cantam
em verso e prosa o nome de Vasco da Gama eles tinham os seus motivos.
Os riscos que estes navegantes
corriam na época fariam que outros de outros tempos ficassem realmente
assustados. Em um extremo ponho Ulysses que na busca por Ítaca navegava no
Mediterrâneo (comparado ao Atlântico e Índico é fichinha) e, no outro ponho os que
primeiro pisaram na lua (o que meu cunhado contesta veementemente – pois a
filmagem teria sido feita em algum lugar do Atacama) tinham uma tecnologia
relativamente segura para ir onde nenhum homem jamais esteve. Afirmo, sem medo
de errar, que comparado aos dois casos a aventura dos nossos colonizadores foi
de uma audácia muito maior.
Uma consequência lógica disto seria o
que ocorreu durante este processo: em Lisboa foi edificada a melhor escola de
navegação da época. Fazendo com que os caras, que já eram bons, se tornassem
excelentes no que faziam.
E tudo isto para conseguir coisas
como canela, pimenta do reino e cravo da índia, que hoje podemos comprar
baratinho no mercado...
Então, por que eles iam tão longe, destruíam
tantos barcos, permitiam que tanta gente morresse tentando?
Sei que muitas pessoas me
responderiam com uma lógica insofismável que a margem de lucro compensava tudo
isto: pois quando um barco voltava inteiro, a sua carga valia o suficiente para
fazer vinte outros, e ainda sobrava o bastante para toda a tripulação.
Esta resposta não me convence, pois
quando se trata de por o pescoço à prêmio deve haver uma motivação intrínseca.
As pessoas se tornam o que são por viverem o extremo de si mesmos. E quem foge
disto vai ser um eterno frustrado, o tipo de pessoa que poderia ser isto ou
poderia ser aquilo, e conta tudinho que não foi em mesas de bares da vida.
Afinal, como determinou Hawking
vivemos em um universo que flutua em uma casca de nós. Percebo, então, que no
fim do dia isto nos leva a condição de navegantes de nós mesmos.
Quando me pergunto se isto tudo vale
a pena percebo que é hora de re-ler a poesia de Fernando Pessoa que citei logo
no começo.
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