domingo, 12 de agosto de 2012


SACOLAS DE PLÁSTICO E BARCOS DE JUNCO

Uma sacola de plástico, um som estridente e alguém disposto a agir tudo isto acompanhado por um cinegrafista amador. Elementos de um drama incomum. Logo emerge um bebê cuidadosamente vestido.
Ouvi comentários entre amigos: “deviam dar uma surra numa mãe destas!”; “basta deixar na penitenciária as outras presas fariam o serviço”; “com tanta facilidade hoje em dia...”.
Penso que até poderia ter uma opinião sobre o assunto, até por que me apavoro com a perspectiva de imaginar que minha filha também pode jogar a adolescência dela fora em troca de uma gravidez inesperada.
Mas vou evitar estes temas, até por que me decidi a não fazer criticas diretas a uma pessoa, no máximo pretendo (sem pretensões) discutir valores. Afinal este é um espaço público. E um dos aprendizados que tive na vida da caserna é de elogiar em público e criticar olho no olho. As pessoas merecem este respeito.
Se me permitem falar metaforicamente devo declarar que nunca me esqueci dos riscos que podem trazer os baobás, em especial para os meninos que vivem em pequenos planetas, desde que li O Pequeno Príncipe.
Só uma metáfora pode ter este efeito: os perigos que nascem pequenos e podem se alastrar nos remetem a problemas de saúde, como a hipertensão; a desertificação que acaba com solo; ou a hipocrisia nas relações (que não deixa pedra sobre pedra).
Porém as metáforas também nos remetem a outras leituras de um mesmo fato. Decidi esquecer da personagem oculta da história preferindo pensar que ela sofria de depressão pós-parto, ou algo que o valha. E me concentrei na menina (pelo menos acho que era pelas roupas que usava). E vi nela a reedição de tantos heróis.
Nas mitologias o bebê seria posto em um barquinho de junco, e não em uma sacola plástica, mas a semelhança das situações é imediata. Assim foram encontrados Moisés, Rômulo e seu irmão gêmeo sem contar Édipo (só que este ao sol escaldante – o que mais adiante poderia representar que lhe faltava algo). No fim das contas todos eles se tornaram verdadeiros ícones, de um modo ou outro.
Ser posto nas águas significa renascer, elas normalmente representam no inconsciente a força que move os corações humanos. Um caminho que cada um de nós deve trilhar para desenvolver plenamente o nosso potencial. Afinal todos nós (até mesmo o Jesus) fomos um dia crianças indefesas necessitadas de cuidado e afeto.
Antes de perguntar que será desta menina, fico com a sensação de que as histórias dos heróis não são assim tão absurdas. Afinal um trecho relevante acabou de ser reeditado. Por isso talvez a resposta seja que a vida dela será de algum modo extraordinária, pois toda vida é assim.

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