LABIRINTO
Era uma vez um grande arquiteto que
vivia no continente. Um dia ele foi atraído a trabalhar em uma ilha onde um rei
(na verdade uma rainha, pois Creta cultuava o Sagrado Feminino, do qual tanto
se fala no Código da Vinci), lhe ofereceu um grande prêmio para fazer um novo palácio.
E lá foi ele sonhando com toda a
riqueza que o rei (?), Minos, poderia lhe dar, levou o último membro de
sua família um garoto sonhador chamado Ícaro.
Muito ia se falar deste menino, ele
representa o sonho sem fronteiras, a juventude eterna, afinal para que
envelhecer? Vivemos hoje em dia em uma sociedade que despreza e desrespeita os
velhos, a sociedade do corpo, da escultura perfeita, da lipoaspiração, do
silicone, da tintura para cabelos, da artificialidade que simula a juventude
perdida. Somos assim o James Dean que temeu morrer, ou o Peter Pan, que se
recusa a viver.
Só que Dédalo, este era o nome do
arquiteto, percebeu tarde demais que a sua bela construção era uma armadilha inescapável,
o seu engenho era sua ruína, o palácio riquíssimo a chegada de sua morte. Uma
vez que nele Minos havia encerrado um monstro com cabeça de touro e corpo
humano.
Este é o maior risco para quem se
despede da infância, se transformar em um monstro que não acredita: alguém que
nada faz por não valer a pena, que se esconde nas sombras do “deixa para lá,
não adianta tentar mesmo”. Para que ir a igreja se não há salvação? Para que
reciclar se o mundo vai acabar mesmo? Para que limpar se alguém vai sujar? Aí
quando vemos o monstro da hipocrisia e da imobilidade já nos tomou.
Mas, Dédalo tem a solução: asas de
penas branquinhas como as de um anjo e cera de abelha, para si mesmo e para o incauto
filho, que vai perto demais do carro de Apolo, e que o sol derreta a cera até o
fim.
Vi uma vez a estátua de dois homens
alados: um jovem morto, pranteado pelo pai.
Chegar aos quarenta é isto mesmo,
somos ao mesmo tempo os três personagens, o jovem que morre para dar lugar ao
Minotauro, ou a um homem maduro, que teve a coragem de se manter acreditando
diante de todas as suas perdas. O que seremos no fim da história depende de
nossas escolhas.
Muito bom! Parabéns!
ResponderExcluirÉ... Agora já estamos nos 50...
ResponderExcluirEu estou vivendo os 40.
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