sábado, 11 de agosto de 2012


LABIRINTO

Era uma vez um grande arquiteto que vivia no continente. Um dia ele foi atraído a trabalhar em uma ilha onde um rei (na verdade uma rainha, pois Creta cultuava o Sagrado Feminino, do qual tanto se fala no Código da Vinci), lhe ofereceu um grande prêmio para fazer um novo palácio.
E lá foi ele sonhando com toda a riqueza que o rei (?), Minos, poderia lhe dar, levou o último membro de sua família um garoto sonhador chamado Ícaro.
Muito ia se falar deste menino, ele representa o sonho sem fronteiras, a juventude eterna, afinal para que envelhecer? Vivemos hoje em dia em uma sociedade que despreza e desrespeita os velhos, a sociedade do corpo, da escultura perfeita, da lipoaspiração, do silicone, da tintura para cabelos, da artificialidade que simula a juventude perdida. Somos assim o James Dean que temeu morrer, ou o Peter Pan, que se recusa a viver.
Só que Dédalo, este era o nome do arquiteto, percebeu tarde demais que a sua bela construção era uma armadilha inescapável, o seu engenho era sua ruína, o palácio riquíssimo a chegada de sua morte. Uma vez que nele Minos havia encerrado um monstro com cabeça de touro e corpo humano.
Este é o maior risco para quem se despede da infância, se transformar em um monstro que não acredita: alguém que nada faz por não valer a pena, que se esconde nas sombras do “deixa para lá, não adianta tentar mesmo”. Para que ir a igreja se não há salvação? Para que reciclar se o mundo vai acabar mesmo? Para que limpar se alguém vai sujar? Aí quando vemos o monstro da hipocrisia e da imobilidade já nos tomou.
Mas, Dédalo tem a solução: asas de penas branquinhas como as de um anjo e cera de abelha, para si mesmo e para o incauto filho, que vai perto demais do carro de Apolo, e que o sol derreta a cera até o fim.
Vi uma vez a estátua de dois homens alados: um jovem morto, pranteado pelo pai.
Chegar aos quarenta é isto mesmo, somos ao mesmo tempo os três personagens, o jovem que morre para dar lugar ao Minotauro, ou a um homem maduro, que teve a coragem de se manter acreditando diante de todas as suas perdas. O que seremos no fim da história depende de nossas escolhas.

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