CANTANDO À CAPELA
Em
meu aniversário o sino da capela se confundiu com o mensageiro do vento da
varanda de minha casa, caso ainda não tivesse certeza de que deveria ir à missa
de inauguração da igrejinha todas as dúvidas se dissipariam naquele momento.
Sempre
resisti às missas e enterros, pois as repetições que ocorrem nestes eventos me
incomodam profundamente. Fico imaginando, por exemplo, se me proporia a
assistir a um filme, por mais que gostasse dele, já sabendo o final. Talvez se
as pessoas ao redor não se incomodassem ao me ouvir cantar junto com as
personagens eu poderia me propor a rever “A noviça rebelde”, mas como isto
seria doido demais (até para os meus padrões) digo: passo.
O
mesmo não ocorre com cemitérios e igrejas, pois admito ser apaixonado pela
arquitetura destes lugares onde os artistas vão ao extremo de sua paixão pela
eternidade e os mecenas gastam os tubos na esperança de serem lembrados ou de
comprar um passe pro céu.
Os
cento e poucos passos que separavam o lar e o santuário rapidamente se
desfizeram sob o peso destes pensamentos.
Lá
já se encontrava meu filho xará do santo e três das quatro mulheres de minha
vida; a filha a irmãe e minha amada; e digo três para não afrontar os céticos,
pois havia sentido a presença daquela fumante...
Esta
capela e a coisa mais linda que se possa imaginar, sem monumentos ou riqueza,
ela é a própria expressão da rica simplicidade do sábio de Assis.
A
moldura se completava ao por do irmão sol e a chegada simultânea da irmã lua.
O
sacerdote, um amigo, lembrava que um bairro onde se envenenam cães
definitivamente necessitava da capela do protetor dos animais. E veja que o que
poderia ser dito com ironia tinha apenas doçura ou pelo menos assim entendeu
meu coração aberto.
Não
sei se vou conseguir reviver aquele momento de riqueza interior: o abraço da
Aninha, o sorriso da Cleó, a o carinho da Clara no meu joelho ou as perguntas
do Francisco.
Estava
lá me religando ao todo junto dos que mais amo. Com uma pontinha de vaidade ou
piedade por aqueles que não podem passar por algo tão enriquecedor.
Na
última terça de cada mês haverá outro culto, não decidi se a minha alma
agnóstica se sentirá tão à vontade de novo, mas não custa tentar.
Afinal
a vida é cheia de repetições.
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