quarta-feira, 11 de julho de 2012


CANTANDO À CAPELA

Em meu aniversário o sino da capela se confundiu com o mensageiro do vento da varanda de minha casa, caso ainda não tivesse certeza de que deveria ir à missa de inauguração da igrejinha todas as dúvidas se dissipariam naquele momento.
Sempre resisti às missas e enterros, pois as repetições que ocorrem nestes eventos me incomodam profundamente. Fico imaginando, por exemplo, se me proporia a assistir a um filme, por mais que gostasse dele, já sabendo o final. Talvez se as pessoas ao redor não se incomodassem ao me ouvir cantar junto com as personagens eu poderia me propor a rever “A noviça rebelde”, mas como isto seria doido demais (até para os meus padrões) digo: passo.
O mesmo não ocorre com cemitérios e igrejas, pois admito ser apaixonado pela arquitetura destes lugares onde os artistas vão ao extremo de sua paixão pela eternidade e os mecenas gastam os tubos na esperança de serem lembrados ou de comprar um passe pro céu.
Os cento e poucos passos que separavam o lar e o santuário rapidamente se desfizeram sob o peso destes pensamentos.
Lá já se encontrava meu filho xará do santo e três das quatro mulheres de minha vida; a filha a irmãe e minha amada; e digo três para não afrontar os céticos, pois havia sentido a presença daquela fumante...
Esta capela e a coisa mais linda que se possa imaginar, sem monumentos ou riqueza, ela é a própria expressão da rica simplicidade do sábio de Assis.
A moldura se completava ao por do irmão sol e a chegada simultânea da irmã lua.
O sacerdote, um amigo, lembrava que um bairro onde se envenenam cães definitivamente necessitava da capela do protetor dos animais. E veja que o que poderia ser dito com ironia tinha apenas doçura ou pelo menos assim entendeu meu coração aberto.
Não sei se vou conseguir reviver aquele momento de riqueza interior: o abraço da Aninha, o sorriso da Cleó, a o carinho da Clara no meu joelho ou as perguntas do Francisco.
Estava lá me religando ao todo junto dos que mais amo. Com uma pontinha de vaidade ou piedade por aqueles que não podem passar por algo tão enriquecedor.
Na última terça de cada mês haverá outro culto, não decidi se a minha alma agnóstica se sentirá tão à vontade de novo, mas não custa tentar.
Afinal a vida é cheia de repetições.

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