quinta-feira, 19 de julho de 2012


NO CHÃO

Me vejo sob uma ponte envelhecida pelas rugas, ofertas de um rio que nem sempre respeita o seu leito, e quando acorda, o faz com violência.
Desta história amazônica, entretanto, não há mais que um córrego que passa onde já houve plenitude.
Morro lentamente. Não há qualquer dignidade em admitir isto, porém pouco importa já que não há qualquer mão para socorrer, e também não há qualquer testemunha do crime, mas pelo menos ninguém me verá neste estado.
O fato é que lutei tantas batalhas que abri mais frentes do que fui capaz de enfrentar. Por isso não sei de onde veio a lâmina enfiada certeira entre a coluna e a escápula.
Guerreiro derrotado, caído na lama... Do modo que vivi já seria de se esperar que isto ocorresse um dia. Pelo menos tenho o suficiente para contar: das vezes que fui excluído, dos momentos de sangue e paixão, da nobreza de uns outros que não aceitaram vender o escudo por qualquer escudo, ou a realidade por qualquer real e, no fim se fingirem vencedores.
Quem fez as regras? Não sei, mas algo se reafirma, o fato de que se houve um pré–contrato para entrar neste mundo não havia qualquer cláusula que dizia que o jogo era limpo.
Então, só resta perder, esta é a única opção decente para muitos jogos que vemos por aí.
Quem vai chorar? É irrelevante. Aceitei minha própria vileza, mas não aceito as desculpas esfarrapadas, fui filho disto, filho daquilo, mas assumi cada erro.
Disse o que tinha para dizer, mesmo sem ter sido convidado, e ainda nos momentos errados e da forma errada, pois só muito depois compreendi que minha palavra sempre foi minha espada, e aquela que pendurei na parede, fruto de uma glória passada, não é mais que um enfeite.
Só que agora nada pode ser dito, o punhal tão certeiro está encravado, não há um hausto sequer. É hora de morrer em silêncio.

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