O DONO DO IOGURTE
Uma série de motivos causou uma verdadeira diáspora
em minha família, cito apenas que meu irmão mais velho (um ícone – como
costumo dizer), passou uns bons nove anos nos porões da ditadura. Então entre
idas e vindas, morei um bocado na casa de minha irmã.
Fui um cara largado, cão vira latas, às vezes sem
dono. Estava recriando minha vida em família quando o Moreno nasceu. E como
era o irmão mais novo, ter aquele menino engatinhando pela casa e fazendo as
graças próprias da idade, constitui uma experiência ímpar.
Como tudo na vida houve também algumas perdas. “Silêncio ele está dormindo, vejam como é
lindo, sua majestade o neném” enfim deixara de ser minha música. Na mesma
medida as guloseimas, contadas, teriam que deixar de fazer parte das minhas refeições.
Cleó começou pedindo, depois implorando e por fim
proibindo avançar nos biscoitos e na comida da geladeira. Algo difícil para
alguém na minha posição: irmão de outros dez, sempre entendi o porquê de os
cães devorarem seus pratos antes de que outro aventureiro lance mão...
Não soube como me livrar dos biscoitos de chocolate
(mea culpa), só que com os iogurtes o buraco foi mais em baixo. Eles
pertenciam àquele menino esperto, capaz de entender que não podia se pendurar
na porta da geladeira devido ao momento de força que sua acrobacia infantil
causava.
Havia terminado de ler Machado se vangloriando de
não ter tido filhos quando tomei a atitude diametralmente oposta: resolvi
acreditar que entre diversas experiências ter uma criança em casa era uma das
melhores coisas que poderia me acontecer. Contudo admito que isto influenciou
decisivamente em minha dieta: não consigo mais comer iogurtes.
Remo Noronha
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domingo, 1 de julho de 2012
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