domingo, 9 de setembro de 2012


LET IT BE

“When I find myself in times of trouble
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom
let it be”.

Dividia meus dias entre Friburgo e Rio de Janeiro na época, estava solitário e ainda não sabia como gerenciar as dificuldades de meu novíssimo trabalho, achava que bastava me formar e tudo de repente ficaria bem. Mas a vida, esta é uma caixinha de surpresas como diria Joseph Climber, mostrou-me que quando nós atingimos um objetivo logo aparecem outros.
Naquele momento, ainda não entendia que o processo de crescimento não está diretamente ligado ao que sabemos, mas sim à nossa capacidade de suportar pressões.
Quando me encontrava em momentos turbulentos, ligava para minha mãe, Maria (Augusta), e ela dizia palavras de sabedoria: deixe estar.
Via de regra não sabia que ela estava justo passando por uma de suas tantas crises de falta de ar, ou que meu irmão tinha sumido por dois dias sem dar notícias, ou que as dívidas dela ultrapassavam como um foguete as minhas.
Afinal esta é uma relação uni-lateral, ou melhor a sua pluralidade só se revela quando temos filhos. Só então é que vamos compreender uma série de atitudes loucas que nossos pais tinham e, de onde vinha aquela tranqüilidade diante de problemas que nos pareciam insolúveis.
Sempre digo para os meus alunos do curso de física que geralmente a resposta certa é: eu não sei, e quando, ao contrário disto, temos todos os dados e eles já estão devidamente organizados a resposta estará embutida na pergunta.
Entre uma coisa e outra há um enorme vácuo: questões insolúveis e problemas fáceis se distanciam em uma área de manobra, nela é que encontramos o espaço para viver plenamente. E é aí que devemos procurar alguma referência, ela é que vai dizer qual é o desenho de nossa trajetória, em qual velocidade estamos seguindo, qual deve ser a aceleração; ou seja: é preciso ter uma base para ir adiante.
Na década de noventa a minha maior referência tinha quase setenta anos, e destruía três maços de cigarro ao dia, sofria de várias doenças cárdio-pulmonares, só que se o bicho pegava lá estava ela firme, um colosso!
Hoje não tenho para quem ligar quando algo assim acontece, somente ouço a velha melodia dos meninos de Liverpool, e se o universo não vier a concordar com os detalhes que queremos para nossas vidas e as situações ultrapassam a nossa capacidade humana, só há uma resposta: deixa estar.

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