MORRER COMO OS ELEFANTES
No
início da obra de meu cunhado ao lado de minha casa me vi, de um certo modo,
envolvido com tijolos novamente. Com o tempo a tarefa me cansou um pouco, e a
partir de então passei a andar com o telefone dele em meu bolso; pois estava,
além de cansado, pronto a repassa-lo a qualquer um que quisesse discutir os
problemas hidráulicos, elétricos ou ecléticos que ocorressem.
Dentro
desta moldura conheci um velho pedreiro: grande, uma montanha, com um olhar
firme e ao mesmo tempo gentil.
Não
demorei muito a perceber que lhe devia desculpas, pela minha fala ríspida
àquele senhor de noventa anos, afinal ele definitivamente pouco tinha em comum
com as pessoas vulgares que me cansavam com suas frases óbvias e interesses
mesquinhos.
As
mãos grosseiras do colosso se mostraram capazes de trabalhos de pura beleza,
desses que justificam o estranho modo como o pessoal da área de engenharia
chama este tipo de artefato: obra de arte.
Espiralada
subia a escada esculpida por mãos quase centenárias. E a serpente se esticou
até onde pôde até dar o bote final no teto.
Logo
entendi que a sua estrutura não consistia apenas de ferragem e concreto, mas do
engenho de um homem que, a todo custo, precisava se manter trabalhando.
A
certeza disto veio juntamente com a doença que não permitiu ao velho sábio o
seu ato final: a retirada da escama do dragão. E numa destas raras ocasiões a
retirada do seu leito de madeira ficou à encargo do ajudante.
Mais
tarde soube que o ócio o deixou depressivo.
E
finalmente que, em sua simplicidade, ele escolheu um fim de paquiderme em um local isolado misturado entre notícias
desencontradas.
Sei
que muitos não vão entender o que é claro como o cristal: seus passos lentos e
curtos na subida da estrada de Teresópolis somente buscavam o retorno de sua
dignidade.
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