sábado, 1 de setembro de 2012


KD VC Q É + Q D +?

Um amigo mostrou, orgulhosamente, uma mensagem assim de sua namorada: Kd vc q é + q d +?, depois  do primeiro susto acho que entendi o significado carregado de paixão e saudade. E passado o segundo, suspirei pensando: por que não.
Não é de hoje que venho discutindo que muitas vezes a beleza e a complexidade de nossa língua nos leva a discriminar as pessoas que não conseguem falar nos padrões dos jornalistas das 8. O português deve, a princípio, ser um modo de comunicação entre as pessoas e não de exclusão.
Outro detalhe é que a linguagem é o que mais nos aproxima dos animais com alta organização coletiva. Fiquei espantado em saber que um cupim, por exemplo, não tem toda informação genética necessária para construir um cupinzeiro: um sabe fazer o lado esquerdo de um arco, outro o topo e, ainda outro o lado direito.
Entendo que a diversificação do conhecimento também nos aproxima disto. Agora mesmo ao invés de escrever este texto estou digitando. Isto significa que uma série de parafernálias mecânicas e eletrônicas estão funcionando a cada catada de milho que dou. Ainda sem contar com um (abençoado) corretor ortográfico que tinge de rubro palavras como invez ao invés de invés. Ou seja este texto é coletivo, e não tenho total controle de todos seus detalhes.
A mobilidade da linguagem também faz com que possamos interferir e sofrer interferências de um modo intrincado que nos leva a sepultar umas palavras, criar outras e ressuscitar ainda outras enriquecendo o seu significado.
Imagino que serei crucificado por alguns gramáticos de carteirinha por esta opinião: me sinto de fato incomodado pelo uso de simplificações internéticas (ih! Outra palavra que o corretor não reconhece!) nas palavras, mas tenho que admitir que é assim que as línguas evoluem.
Já pensou se eu admitisse em público de que tenho a opinião de que o verbo haver com o sentido de existir não poder ir para o plural como uma total (e incompreensível) loucura?
Nesta confusão toda só me preocupa o fato de que as pessoas estão transgredindo regras que não conhecem; diferentemente de Picasso, que antes de pintar de um modo alucinado provou que sabia como fazê-lo como se fosse uma fotografia.
Admito ainda que já critiquei muitas pessoas que comem com gaufo (é... desta vez o corretor vai ficar a ver navios). Até que um dia apresentei Anthony, um amigo que vem ao Brasil sempre que pode, apesar de seu minguado salário de jardineiro em Londres, a uma moça que arranhava um inglês sofrível. Logo que ela saiu de jogo cai no malho. Mas meu amigo de dedo em riste me disse que temos que ser tolerantes com as pessoas que não falam tão claramente. Afinal ela fez o possível para se comunicar e que na vida não existe nada mais belo do que duas pessoas que se entendem.

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