KD VC Q É + Q D +?
Um amigo
mostrou, orgulhosamente, uma mensagem assim de sua namorada: Kd vc q é + q d +?, depois do primeiro susto acho que entendi o
significado carregado de paixão e saudade. E passado o segundo, suspirei
pensando: por que não.
Não é de hoje
que venho discutindo que muitas vezes a beleza e a complexidade de nossa língua
nos leva a discriminar as pessoas que não conseguem falar nos padrões dos
jornalistas das 8. O português deve, a princípio, ser um modo de comunicação
entre as pessoas e não de exclusão.
Outro detalhe
é que a linguagem é o que mais nos aproxima dos animais com alta organização
coletiva. Fiquei espantado em saber que um cupim, por exemplo, não tem toda
informação genética necessária para construir um cupinzeiro: um sabe fazer o
lado esquerdo de um arco, outro o topo e, ainda outro o lado direito.
Entendo que a
diversificação do conhecimento também nos aproxima disto. Agora mesmo ao invés
de escrever este texto estou digitando. Isto significa que uma série de parafernálias
mecânicas e eletrônicas estão funcionando a cada catada de milho que dou. Ainda
sem contar com um (abençoado) corretor ortográfico que tinge de rubro palavras
como invez ao invés de invés. Ou seja
este texto é coletivo, e não tenho total controle de todos seus detalhes.
A mobilidade
da linguagem também faz com que possamos interferir e sofrer interferências de
um modo intrincado que nos leva a sepultar umas palavras, criar outras e
ressuscitar ainda outras enriquecendo o seu significado.
Imagino que
serei crucificado por alguns gramáticos de carteirinha por esta opinião: me
sinto de fato incomodado pelo uso de simplificações internéticas (ih! Outra
palavra que o corretor não reconhece!) nas palavras, mas tenho que admitir que
é assim que as línguas evoluem.
Já pensou se
eu admitisse em público de que tenho a opinião de que o verbo haver com o
sentido de existir não poder ir para o plural como uma total (e
incompreensível) loucura?
Nesta confusão
toda só me preocupa o fato de que as pessoas estão transgredindo regras que não
conhecem; diferentemente de Picasso, que antes de pintar de um modo alucinado provou que sabia como fazê-lo como se fosse uma fotografia.
Admito ainda
que já critiquei muitas pessoas que comem com gaufo (é... desta vez o corretor
vai ficar a ver navios). Até que um dia apresentei Anthony, um amigo que vem ao
Brasil sempre que pode, apesar de seu minguado salário de jardineiro em
Londres, a uma moça que arranhava um inglês sofrível. Logo que ela saiu de jogo
cai no malho. Mas meu amigo de dedo em riste me disse que temos que ser tolerantes
com as pessoas que não falam tão claramente. Afinal ela fez o possível para se
comunicar e que na vida não existe nada mais belo do que duas pessoas que se
entendem.
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