Se um dia eu pudesse ver meu passado
inteiro E fizesse parar de chover nos primeiros erros
Tenho
seguido minha vida de desequilibrista entre os extremos de buscar algo melhor e
tentar e deixar a vida me levar por tantos enganos que teimo em cometer.
Enquanto
isso gravar vídeos com aulas tem sido o meu hobby nestes últimos quatro anos.
Saiba, porém, que vídeos são espelhos em movimento que mostram o quanto estávamos
longe de onde gostaríamos.
Seja
como for, chega um momento em que devemos dizer para nós mesmos: “está bom o
suficiente”; então, é o momento de publicar e ir adiante.
Sei
que, como reza o ditado popular, o perfeito é inimigo do razoável. Um aprendizado
que me veio a ferro e fogo. Literalmente. Anos e anos sendo bombeiro nos fazem
entender que o relógio não espera e muitas vezes devermos agir rápido para encontrar
a solução possível, seja ela qual for, até mesmo passar o facão em algum nó
górdio.
A
sala de aula não é muito diferente. Não devemos dar as costas muito tempo a uma
turma de adolescentes, do mesmo jeito que não o faríamos com um mar bravio.
Tudo
isso me faz ter pouca paciência com os teóricos do ar-condicionado, ou com os
sábios de porta de bar. Sem a pressão, a refrega, a marca do pênalti; toda e
qualquer decisão pode ser tomada com sabedoria. Na mesma medida deve parecer fácil
saber o que fazer em um desabamento ou enchente, se você nunca pôs os pés na
lama.
Agora
tudo é diferente, posso regravar (eu não edito) qualquer aula que não me
agrade. O recorde fica por conta da demonstração da maldita fórmula da
hipérbole, que hiperbolicamente, teve que ser refeita não menos do que doze
vezes.
Pior
é quando um aluno comenta algo como: “aquela figura que você chamou de losango não
seria um trapézio?”. Bem. Seria mesmo. É hoje que vou estragar o tal do
algoritmo deletando um vídeo que já foi publicado. Mea culpa, mea máxima
culpa.
Para
evitar isso tenho que rever, e muitas vezes, e de quando em vez detonar algo
que me deu umas duas horas de trabalho.
Tento
dizer para mim mesmo que foi um ensaio.
Vai
gostar de ensaiar assim lá na casa... do chapéu.
O
outro extremo é a paralisia.
Já
que nunca vou consertar de verdade talvez seja melhor desistir.
Lembro
bem como resolvi esse problema quando eu atuava (essa é a palavra certa – todo professor
é um ator) nas salas de aula da vida.
"Galera, eu erro mesmo, se eu fizer alguma besteira aqui me avisa que a vida segue".
Sei que isso, contudo, é algo raro. Demanda uma tremenda humildade para ter
essa postura, e somente anos de magistério me levaram a essa posição. Antes era
mais fácil por a culpa no giz, ou dizer que só estava testando a turma.
Mas
até que ponto podemos nos permitir errar?
Nas
videoaulas procurei traçar uma linha vermelha ao redor do seguinte conceito; se
o que houve foi um lapso, um erro de digitação ou de contas, e durante o
próprio vídeo eu percebo, peço desculpas e corrijo o processo - tudo bem. Faz
parte do show. Todavia se o erro é conceitual ou pode trazer alguma confusão
mental àquele que está aprendendo; a tecla escrita DELETE está logo ali no
canto superior direito.
Isso
tudo leva ainda em consideração de que não aprendemos tudo que nos chega, do mesmo
modo não ensinamos tudo que gostaríamos. Espalhamos migalhas de pão na trilha
esperando que alguém as siga e de preferência não leve a casa de alguma bruxa.
Pode
parecer ser um critério simples. Só que não! Está muito longe disso. Entre me perdoar
pelo que faço e buscar o Santo Graal vivo tropeçando aqui e ali.
Para
viver tudo isso é ainda muito mais complicado, muitas vezes não conseguimos
distinguir entre o que é preciso e o que é preciso. Ou melhor entre o que é exato
e o que é necessário. Mas essa resposta, pelo menos, o Fernando Pessoa já deu.